terça-feira, 3 de março de 2015

Uma petição pelo direito à memória.

Reproduzo o texto completo realizado por um grupo de historiadores/as formados no Departamento de História da UNIVILLE. Após a leitura, caso tenha interesse, assine a petição que está disponível aqui. 

A fotografia é o registro do encontro em Joinville do então prefeito Nilson Bender (alto e de bigode ao centro) com o ditador Costa e Silva (de óculos e com os braços para cruzados nas costas). A fotografia é parte do acervo utilizado no documentário Ditadura Reservada, do jornalista Fabrício Porto.




A UNIVILLE, Universidade da Região de Joinville, é uma entidade educacional notória no processo da formação social de Joinville e região. Basta olhar para o quanto os bancos universitários incentivaram o pensar, o fazer, o sentir, o manter e o transformar a cidade. É claro que a sua história não é um conto de fada. Os/as egressos/as sabem o quanto foi complexo organizar o movimento estudantil e sindical no campus, como os/as estudantes foram punidos com aumentos unilaterais das mensalidades e a falta de repasse financeira da Prefeitura Municipal de Joinville. 

O Departamento de História, localizado no segundo andar do Bloco A, promoveu grandes discussões e mobilizações. O grande legado é a nova interpretação sobre a história da cidade, rompendo com mitos e lendas criadas por cronistas, que ironicamente frequentaram os bancos do campus. Hoje, parte da historiografia produzida no Departamento de História é apropriada por movimentos sociais, organizações políticas e por educadores/as nas salas de aula do ensino fundamental e médio. 

Entre os conteúdos produzidos, podemos mencionar os trabalhos relacionados a história de Joinville entre os anos de 1960 e 1970 – anos que o Brasil vivenciava uma tremenda ditadura civil-militar implantada pelo golpe de 1964 –, assim como as entrevistas orais arquivadas no Laboratório de História Oral da UNIVILLE. Graças aos trabalhos de egressos do Departamento de História, é de conhecimento o quanto Joinville, assim como sua elite econômica, política e intelectual participou, arquitetou e foi beneficiada pela ditadura que se arrastou violentamente até 1985. 

Por conta dessas contribuições que causa estranheza a notícia que será concedida in memorian o título de Doutor Honoris Causa ao ex-prefeito e diretor da Fundição Tupy Nilson Bender. A biografia de Nilson Bender está vinculada aos interesses econômicos e políticos da Ditadura. Na Fundição Tupy exerceu funções de diretor da empresa privada, justamente no momento em que se arquitetava o golpe civil-militar de 1964, inclusive fazendo dos espaços da empresa para promover o pensamento ideológico golpista ao governo eleito pelo voto de João Goulart. Depois, em 1966, se tornou prefeito de Joinville, quando recebeu ditadores e realizou a defesa da política do Estado ditatorial brasileiro. Segundo pesquisas, a Fundição Tupy foi uma grande beneficiada economicamente com a ditadura. No processo de abertura para democracia representativa, o Nilson Bender não poupou o verbo para fazer a defesa da ditadura, inclusive negando a existência de presos políticos e torturados nos 21 anos de Ditadura. 

Com o encerramento dos trabalhos da Comissão Nacional da Verdade, Comissão Estadual da Verdade Paulo Stuart Wrigt e Comissão Municipal da Verdade de Joinville, é documentado o quanto a Fundição Tupy e o governo Bender perseguiu e receberam colaborações. Nos relatórios da Comissão são unânimes para dizer não a nomeação de prédios, ruas e praças públicas em homenagens aos nomes referentes a Ditadura Civil-Militar. 

Considerando que a democracia é fundamental para o exercício da educação, pesquisa e extensão, práticas que a UNIVILLE é uma realizadora em Joinville e Região, é questionável a notícia de conceder o título Honoris Causa ao rosto político civil da repressão, o senhor Nilson Bender. Por isso, solicitamos o cancelamento da homenagem ao ex-prefeito Nilson Bender. Sendo a homenagem realizada, cabe a instituição saber que figura na contramão dos debates contemporâneos, sendo que a Univille, por meio de seus gestores, estará ao lado dos homens e mulheres que colaboram para escamotear os crimes contra a humanidade cometidos nos anos de chumbo.

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