sábado, 31 de janeiro de 2015

Voto crítico ao PT, PSOL vota LHS e Malatesta.

Lendo o artigo “Dever de honra”, do anarquista Errico Malatesta (1853 - 1932), publicado no jornal L`Agitazione, em 22 de setembro de 1901, penso que é possível usar como base para refletir sobre o voto crítico realizado por vários companheiros e companheiras da esquerda das diferentes tendências ao PT e também para pensar sobre o voto do senador do PSOL para Luis Henrique da Silveira (do PMDB) na função de presidente do Senado.

É necessário pensar a candidatura do senador Luis Henrique da Silveira por atuarmos em Joinville, cidade que é terreno político desde anos de 1970. Como a esquerda radical, anti-parlamentar, movimentos sociais e entidades de classes entendam está dinâmica da política institucional que enfrentamos no cotidiano da luta popular e classista nas ruas, nas praças, nos locais de trabalho, moradia e estudo. 

Segue o artigo para estimular a reflexão.

DEVER DE HONRA

Acabaram as eleições.

Nós- quer dizer, todos os companheiros – fizemos tudo o que podíamos fazer para explicar ao povo esta trapaça que é a luta eleitoral, assim como seus danos. E trabalhamos bem. Mas agora nos compete um outro dever, e mais importante: mostrar – pelos fatos, obtendo resultados – que a nossa tática é melhor do que a dos parlamentaristas; e que não somos simplesmente uma força negativa, mas queremos ser e somos uma força ativa, operante, eficaz, na luta pela emancipação do proletariado.

Combatemos os socialistas parlamentaristas e temos razão porque, em seu programa e em sua tática, há o germe de uma nova opressão. Se algum dia eles triunfassem, o princípio de governo que conservam e reforçam destruiria o princípio de igualdade social e abriria uma nova era de luta de classes. Mas, para ter o direito de combate-los, devemos fazer melhor do que eles.

Ter razão em teoria, sonhar com ideias superiores, criticar os outros, prever as consequências de programas incompletos e contraditórios, isto não basta. Mais ainda, se tudo se limita à teoria e à crítica e não serve de ponto de partida a uma atividade que procure e que crie as condições para pôr em obra um programa melhor, nossa ação corre o risco, ao contrário, de ser nociva na prática, entravando a ação dos outros, e isto para a grande vantagem de nossos inimigos comuns.

Impedir, por nossa propaganda, que o povo envie ao Parlamento socialistas e republicanos (levando em conta que aqueles que são os mais acessíveis à nossa propaganda são precisamente os que, sem nós, votariam em candidatos antimonarquistas) é muito bom, se soubermos fazer, daqueles que arrancamos do fetichismo da urna, combatentes conscientes e ativos da emancipação verdadeira e total.

Caso contrário, teríamos servido, serviríamos aos interesses da monarquia e dos conservadores.

Pensemos todos nisto. Trata-se do interesse de nossa causa, de nossa hora, como homens e como partido.

A propaganda isolada, ocasional, que frequentemente é feita com o objetivo de acalmar sua consciência, ou para dar simplesmente livre curso à sua paixão pela discussão, esta propaganda não serve para nada ou quase nada. Ela é esquecida, perde-se antes que seus efeitos possam somar-se uns aos outros e tornar-se fecundos, tendo em vista as condições de inconsciência e de miséria das massas e, por outro lado, todas as forças que nos são contrárias. O terreno é muito ingrato para que sementes lançadas ao acaso possam germinar e produzir raízes.

É necessário um trabalho contínuo, paciente, coordenado, adaptado aos diferentes meios e às diferentes circunstâncias. É preciso que cada um de nós possa contar com a cooperação de todos os outros, e que em todos os lugares onde um grão tiver sido lançado, não falte o trabalho assíduo do jardineiro para cuidar dele e protege-lo até que ele tenha se tornando uma planta capaz de viver por si mesma e, por sua vez, espalhe novos grãos fecundos.

Há, na Itália, milhões de proletários que ainda são instrumentos cegos nas mãos dos padres; há milhões que odeiam o patrão com um ódio intenso, mas que estão persuadidos de que não pode viver sem patrões e não sabem imaginar nem desejar outra emancipação senão a de tornar-se patrões, por sua vez, e explorar seus companheiros de miséria.

Há regiões imensas – exatamente a maior parte da superfície da Itália – onde nossa palavra jamais chegou, ou não deixou marcas sensíveis caso tenha lá chegado.

Existem organizações operárias, poucas, é verdade, às quais somos estranhos.

Desencadeiam-se greves onde, não preparados ou tomados de surpresa, não podemos nem ajudar os operários no combate que eles realiza, nem aproveitar a excitação dos espíritos para nossa propaganda.

Eclodem motins, quase insurreições, e nenhum de nós o sabe.

Há também a perseguição; aprisionam-nos, deportam-nos às centenas e aos milhares e encontramo-nos impotentes, não somente para reagir, mas até mesmo para atrair publicamente a atenção para as infâmias das quais somos vítimas.


Ao trabalho, companheiros! A tarefa é grande. Ao trabalho, todos!