terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Os festivais operários no Rio de Janeiro pelo informativo Emecê.

A expressão “memória é luta!” cabe muito bem para a proposta do Núcleo de Pesquisa Marques da Costa, situado no Rio de Janeiro.  Por meio do informativo Emecê, o NPMC realiza um importante trabalho da memória do anarquismo. A pesquisa é possível encontrar no site (aqui) e nos informativos disponibilizados para consulta virtual (aqui).


A edição de agosto de 2009 apresenta um texto sobre os festivais de arte operária nas primeiras décadas do século XX. Segundo o Emecê, os festivais realizaram ações de grande importância por meio do teatro, da música e diferentes manifestações artísticas com objetivo de formação duas gerações de militantes anarquistas e do sindicalismo revolucionário.



Clique aqui e leia o artigo completo Arte e consciência: os festivais operários no Rio de Janeiro”. 

domingo, 27 de dezembro de 2015

Comédia de um ato

A peça "Comédia de um ato" está presente na antologia Contos Anarquistas, vários autores, organizado por Arnoni Prado, Foot Hardman e Claudia Leal, lançado pela Editora Martins Fontes. A antologia apresenta contos, textos em prosa e peças curtas de teatro publicados nos jornais operários e anarquistas brasileiros, entre os anos de 1890-1935. 

Reproduzo a peça curta para estimular a leitura dos escritos das mãos de lutadores/as da classe operária. A literatura (assim como teatro, a educação, a poesia...) eram práticas fundamentais no lazer e na formação de homens e mulheres de todas as idades que não tinham acesso a educação e ao lazer na ordem capitalista do começo do século XX.


COMÉDIA EM UM ATO
GIL
O Estado está sentado em um trono feito de caveiras: empunha o açoite e tem na cabeça a metade de um boné vermelho e metade de uma coroa real. A decoração da sala é rica, mas estúpida... as paredes foram pintadas com sangue; ao pé do trono dorme um chacal que na coleira traz escrito: polícia.
Época, passada e presente.
A ação desenrola-se aqui e além.

CENA I
(O Estado só.)

Eu do alto deste trono em que me acho, empunhando o cetro que Deus me deu, dirijo ao estalido da chibata esta humanidade estúpida e imbecil que para nada mais serve, senão para trabalhar e proporcionar bem-estar a mim e aos meus satélites.

Ah! Quero desfrutá-la, quero tornar-me um Nero, um Júlio César, um Calígula, ou todos reunidos!

E quem me poderá impedir?

Pois não sou o senhor absoluto? A minha vontade não é inatacável? 

Quem é que ignora que tudo é meu, que tudo me pertence?

São meus estes montes, são minhas estas campinas, é minha aquela torrente, e é minha esta humanidade idiota com tudo quanto possui, e aqui ninguém tem o direito de viver sem o meu consentimento.

CENA II
Entra o Clero.)

ESTADO: Quem és tu, o luxuriento fantasma que assim ousas vir à minha presença? Vens de alguma orgia, nesses trajes de dançarina grega e com esse pandeiro na cabeça? Diz-me, a que sexo pertences, és homem ou mulher?

CLERO: Sou o teu braço direito. Sem o meu concurso, há muito que a tua soberania teria desaparecido, e tu para viveres terias que ir plantar batatas, como os demais.

ESTADO: Como assim? Chamo-me Estado.

CLERO: Tu governas, porém sou eu quem atrofia as consciências e que as preparar a fim que humildemente se submetam a serem governadas; para isso tenho espalhado sobre toda a superfície da terra milhões de aves negras, dignos discípulos de Loyola, os quais não obedevem senão às minhas ordens, e não fazem outra coisa a não ser catequizar a plebe para que se resigne a obedecer-te e cumprir à risca as tuas e as minhas ordens; como recompensa a essa obediência passiva, prometo-lhe a glória do além-túmulo, de onde ninguém poderá voltar reclamar coisa alguma.

E quando alguém quer interpretar as coisas diversamente do que lhes ordeno, quando ousam falar em liberdade, igualdade, o punhal do sicário ou as fogueiras do S. Ofício sabem fazê-los calar para sempre.

Tu tens a força que te garante; mas ai de ti se ela compreendesse que não tem obrigação alguma de garantir o bem-estar de outrem, em detrimento próprio; se ela pudesse perceber que, o enquanto te serve de guarda-costas, tu a exploras tanto quanto a plebe (pois que ela é composta na sua maioria de filhos do povo), abadonar-te-ia a ti e aos teus; descansa, porém, que aqui está o clero, pronto a impedir o desenvolvimento intelectual dos teus comandados.

ESTADO: E por que forma?

CLERO: Por meio das escolas das igrejas, dos missionários.
Nas escolas aproveitamos a infância que é fácil de dominar à vossa vontade: incutimos-lhe no espírito que deve obedecer a Deus, à Igreja e ao Governo e convencemo-la de que somos seus superiores, que nos deve obediência, que é por vontade de Deus que o mundo é feito assim, e que nós somos enviados para guiar a humanidade no caminho do dever a fim de que esta possa alcançar o reino do céu.

Essa infância de hoje serão os homens do amanhã que, assim preparados pelo clero, continuarão a prestar-te homenagem e a julgarem-se tuas eternas bestas de carga; para que alguém não se desvie do caminho que lhe traçamos, temos as igrejas com os respectivos confessionários, por meio dos quais sabemos tudo o que se passa e podemos mandar para a fogueira alguma ovelha que entenda pôr o rebanho a perder.

Temos também um Deus bom, justo, caridoso, infalível, que tudo vê e sabe premiar e elevar ao reino dos céus, onde tudo é música, alegria e flores, os que sofrem com resignação as misérias desta vida. Além disso, o povo está convencido de que o nosso Deus também é perveso, sanguinário, mau, dinamiteiro, eterno foguista dos caldeirões dos infernos, onde se diverte a fazer ferver os que não seguem à risca o que lhes manda a santa madre Igreja, da sou ministro pleni-potenciário, com carta-branca para, em nome de um Deus que não conheço nem desejo conhecer, podermos amordaçar as consciências, aterrorizar os francos, suplicar os sábios, estuprar menores e viver à custas de todos esses imbecis, que, com medo de ir visitar o nosso Deus foguista, fazem o que lhes mando, convencidos de ganharem o reino das glórias ou... da estupidez.

Enquanto isso, nós gozamos as delícias da terra e aspiramos a essência dessas beldades peregrinas, traídas pelos salmos cantados ao som das nossas vandálicas gargalhadas, ah! Ah! Ah! Isso até quando essas gargalhadas não se transforarem em riso macabro, enquanto as nossas caveiras não escarnecerem de nós mesmos.

CENA III
(Os mesmo e um desconhecido.)

ESTADO: Quem és tu, oh mísera lesma? Como te atreveste a sair da lama em que vegetas?

CLERO: Sim, como conseguiste vir até aqui?...

ESTADO: Sem que a chibata do mordomo te retalhasse o focinho?

CLERO: E o que é que queres?
O desconhecido fez uma reverência e inclinou-se até ficar de quatro para representar o que é.

DESCONHECIDO: Trim-blim-blim, vai, vai, vai fechar. O burro é o azar. Última quinela! Atucha*, rapaziada! Quem mais joga, menos puxa! Olha o zerinho da Santa Casa... Ninguém ganhou. Atucha de novo, que esta não prestou. Trim, blim, blim... Ao tiro americano, sistema máuser, feito! Feito o joguinho do caipira, quem mais joga menos tira... Coragem, rapaziada! Quem não ganha trepa pau da cocanha e desforra-se! Trim, blim, blim... vai, vai... Prepara... Fecha! Catatrai** fechooo!

(Dirigindo-se aos dois:)

Reverenda Santidade... Sua Excelência o Estado...

ESTADO: Quem és tu, meu arlequim?

CLERO: Quem és tu, meu arlequim?

CLERO (à parte): Quem será essa ave?

DESCONHECIDO: Ora essa! Querem ver que, apesar da minha popularidade, há quem não me conhece?

Pois eu sou o Bicho, o afamado Bicho, o digno continuador da vossa obra...

Tudo quanto tendes posto em prática não chega para reduzir à impotência os vossos súditos; isso de impostos, latim e benzeduras não chega. É necessário o joguinho do bicho; ele, sim, os depena às mil maravilhas: o bichinho impede ao povo de fazer economias, torna-o vadio, velhaco, desmoralizado, perde o crédito, finta a Deus e ao diabo, empenha e vende o que possui, e, quando mais nada tem para jogar, vai aos quintais dos vizinhos e carrega o que lé encontra: roupa, lenha, galinha, tudo lhe serve; e nesse labutar constante não tem tempo de ver o despotismo dos governos, de ver o que fazem os representantes das nações, como se executam as leis e tantas outras coisas.

Já vedes, pois, que graças ao bicho podeis dormir descansados, porque a maioria dos vossos súditos não tem tempo de sindicar o que fazeis, se está realmente separada a Igreja o que fazeis, se está realmente separada a Igreja do Estado, como é que os padres se ocupam de política, por que é que os frades não pagam impostos para darem espetáculos no meio da rua, por que há tanta miséria, por que não há trabalho, por que há tanta ladroeira nos cofres públicos e os culpados passeiam impunes, e os presos em flagrante, réus confessos, são por fim despronunciados. Podeis dormir sossegados o sono da inocência, que o Bicho dá-lhes muito que fazer sem deixar-lhes tempo de se ocuparem de vós. O que eles querem e eu também é poder jogar mesmo nas bardas da lei!

ESTADO: Bravos! Venha de lá um abraço e podes jogar à vontade.
(Abraçam-se os três.)

CENA IV
(Uma voz oculta, cantando:)

A mísera plebe morre de fome,
Por toda parte miséria e peste.
Além só se ouvem ânsias e gritos,
aqui só se vê o azul celeste.

(Com ironia:)

Oh! Torpe matéria!...
Se os triturassem qual pedra bruta
Que foco de miséria irromperia de tais almas corruptas!

(Todos, assustados:)

O que será isto?

CLERO: Ah! É a voz da igualdade que clama contra o nosso despotismo. Vamos, em campo! Todos os meios são bons para sufocá-la. Acendam as fogueiras, preparem os patíbulos!

(Todos:)

Vamos, vamos!

(Saem de braços dados.)
(A mesma voz que se afasta:)

Ah! Vida, vida, incendiada tragédia, transfigurado horror, sonho transfigurado; macabras contorções de lúgubre comédia, que um cérebro de louco houvesse imaginado.

(Desce o pano)

O Despertar, PR, ano I, nº 4, 8 out. 1904.





sábado, 31 de outubro de 2015

Memórias sindicais: Mother Jones

Lendo sobre a história do sindicalismo norte-americano encontrei um artigo sobre Mother Jones. Uma mulher vibrante e lutadora que muitos/as desconhecem. Reproduzo o artigo.


Mother Jones, mãe do sindicalismo norte-americano 
(por Elliot J. Corn)
Descrição: http://www.diplomatique.org.br/interf/spacer.gif
Hoje, Mother Jones parece ter caído no esquecimento. Mas, no início do século XX, ela foi uma das mulheres mais célebres dos Estados Unidos, simbolizando o vigor do movimento operário numa época em que ainda havia um Partido Socialista no país, pelo qual se apresentavam candidatos respeitados
Descrição: http://www.diplomatique.org.br/interf/spacer.gif


“A torrente de aplausos eclodiu e se transformou em tumulto quando uma pequena mulher avançou em direção à tribuna. Com o rosto marcado pela idade, poderia ser a avó de qualquer um; porém, tratava-se da avó de centenas de milhares de mineradores... Ao escutá-la falar, compreende-se sua influência sobre essas hordas poliglotas. Ela tinha a força, o espírito e, sobretudo, a chama da indignação. Ela era o furor divino encarnado.”
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É assim que o escritor Upton Sinclair, célebre por seu romance sobre os abatedouros de Chicago (The Jungle), descreve Mother Jones. E acrescenta: “Ela contava histórias sem fim de aventuras; das greves lideradas por ela; de seus discursos; das reuniões com os presidentes, governadores e chefes industriais; da prisão e dos campos de prisioneiros. Ela havia percorrido todo o país e, onde estivesse, o fogo do protesto se propagava no coração dos homens. Sua história é uma verdadeira odisseia de revolta”.1As palavras de Sinclair são rigorosamente exatas. Durante 25 anos, essa senhora não teve residência fixa; uma vez, diante do Congresso, explicou: “Da mesma forma que meus sapatos, meu endereço me segue por onde eu for”.

Entre os 60 e os 80 anos, Mother Jones renunciou aos amigos, à família e a seus bens para viver na estrada, com seu povo, e seguir o caminho que as lutas definissem. Esse engajamento indefectível ao lado dos trabalhadores forjou um sentimento de identificação entre os operários: além de ativista sindical ou militante política socialista, ela era considerada a “mãe” dos norte-americanos explorados.

Ao se inteirar de que Mother Jones havia sido detida novamente, um operário da Virgínia Ocidental se dirigiu ao ministro do Trabalho: “Já empunhei minha pistola três vezes durante as guerras industriais deste país e juro diante do Eterno que, se acontecer qualquer coisa com a velha Mãe, não estou nem velho nem frouxo para empunhá-la outra vez”. E A. van Tassel, trabalhador de Ohio, suplicou ao presidente Woodrow Wilson que libertasse o “anjo dos oprimidos”: “Essa bela heroína do movimento operário não cometeu nenhum crime, mas ela é assassinada lentamente ao ser punida cada vez mais por lutar, por agir, por defender a educação e para que os trabalhadores ganhem consciência de sua verdadeira posição na sociedade”, escreveu.2

Há muitos mitos ao redor de Mother Jones – e ela mesma contribuiu para a construção de alguns deles. Ela se apresentava como mais velha do que era, com o objetivo de aumentar seu caráter respeitável. Por exemplo, em sua autobiografia publicada em 1925, ela afirma ter nascido em 1° de maio de 1830, dia da festa dos trabalhadores. Mary Harris – seu verdadeiro nome – veio ao mundo de fato em agosto de 1837, em Cork, Irlanda. Durante a juventude, enfrentou a Grande Fome (1845-1849), o que obrigou sua família a migrar para a América do Norte – mais precisamente para Toronto, onde seu pai encontrou um trabalho de ferroviário e Mary aprendeu os ofícios de costureira e professora. 

Na maioridade, deixou a família e se instalou em Michigan para lecionar. Em seguida, foi para Chicago, antes de mudar-se para Memphis (Tennessee), onde se casou com um caldeireiro sindicalista, George Jones. Dessa união, nasceram quatro filhos, que faleceram junto com o marido, em 1867, durante uma epidemia de febre amarela. Mary entendeu o episódio como uma injustiça social: “As vítimas foram principalmente os pobres e os trabalhadores. Os ricos puderam deixar a cidade ou mudar-se para longe”, constatou.

Viúva, retornou a Chicago, onde trabalhou como costureira durante vinte anos. Nesse período, conheceu militantes políticos e líderes sindicais. A cidade figurava naquele momento como uma das mais radicais dos Estados Unidos, e foi em suas ruas fervilhantes que Mary descobriu seu talento de oradora e sua capacidade de mobilizar multidões.


A invenção de Mary


A dama decidiu então multiplicar seus engajamentos militantes com a organização de cursos de educação política para os trabalhadores sindicalistas, a participação na marcha de desempregados a Washington em 1894, a coordenação da ação de mineradores de antracito na Pensilvânia, entre outras iniciativas. 

Seu ato mais importante, porém, foi inventar a “Mother Jones”. Mary Harris era uma imigrante irlandesa pobre que fugiu da fome; Mary Jones, esposa de um operário, mãe de família e viúva, vivia na pobreza em Chicago; “Mother Jones” seria a “velha Mãe” da classe operária norte-americana.

Esses novos hábitos a transformaram. A nativa de Cork se recusava a ser chamada de Mary e assinava seu novo nome em todas as cartas. Mesmo os homens de negócios e os presidentes dos Estados Unidos a chamavam dessa forma. Atrás de seus velhos vestidos negros e de sua imagem de mulher virtuosa e sábia, Mother Jones dissimulava um vigor físico e oratório incrível. Percorria estradas para participar de encontros políticos, dar assistência e proferir discursos que denunciavam as leis sem limites do mercado; também ridicularizava os ricos para que o povo tomasse consciência de sua própria força e da injustiça de sua condição.

Ela se opunha ao direito de voto das mulheres − considerava-o uma mera distração burguesa − e acreditava que a atenção dispensada às questões eleitorais apenas desviava os trabalhadores dos problemas econômicos: “Os sindicatos devem mobilizar suas mulheres para os problemas da indústria. A política não é apenas empregada da indústria. Os plutocratas ocuparam suas mulheres: eles as ocupam com o voto e com a caridade”,3explica Mother Jones em sua autobiografia.

A “mulher mais perigosa da América”, segundo as palavras de um procurador da Virgínia Ocidental, resistia à polícia, aos detetives particulares, ao Exército; desafiava abertamente as ordens dos juízes, desmoralizava governadores, atacava homens de negócios. E pagou por suas audácias com muitas temporadas na prisão. Assim que saía, Mother Jones reincidia: incentivava operários a se sindicalizar e a interromper o trabalho, além de organizar manifestações com suas esposas que, munidas de vassouras e esponjas, impediam os fura-greves de penetrar nas minas. Mother Jones também colaborou com os revolucionários mexicanos instalados nos Estados Unidos, os prisioneiros políticos da Califórnia e os siderúrgicos do Centro-Oeste do país.

Entre 1890 e 1910, essa figura do movimento operário se engajou em centenas de greves – algumas particularmente violentas –, principalmente ao lado do Sindicato dos Mineiros (United Mine Workers): greve dos mineiros de cobre de Calumet, dos cervejeiros de Milwaukee, dos trabalhadores têxteis de Chicago, entre outras. Também organizou, em 1903, na Filadélfia, uma das primeiras manifestações contra o trabalho infantil; participou da fundação do Partido Socialista dos Estados Unidos em 1901 e do sindicato radical Industrial Workers of the World (IWW), em 1905.

No início do século XX, os trabalhadores norte-americanos conheceram tempos difíceis; o carvão ainda era o principal combustível e o trabalho nas minas ocupava 750 mil homens. Esses mineradores recebiam cerca de US$ 400 por ano, muitas vezes em moeda privada timbrada pela empresa, o que os forçava a viver nas vilas fundadas pelo empregador e, portanto, submetidas a seu controle. Os 500 mil siderúrgicos trabalhavam doze horas por dia, seis dias por semana. Milhões de mulheres e crianças se esgotavam nas usinas e ateliês de costura por alguns centavos.


Radicalidade apurada


Mother Jones alertava para essas condições dramáticas de existência. Em 1901, naInternational Socialist Review, ela descreveu, por exemplo, a vida numa fábrica de algodão: “Crianças de 6 ou 7 anos eram arrancadas da cama às 4h30 da manhã pelo apito do feitor. O café da manhã era singelo: café preto, um pedaço de pão mergulhado no óleo de algodão no lugar de manteiga. Em seguida, esse exército de servos – tanto os grandes como os pequenos – marchava até os muros da indústria, onde começavam a jornada às 5h30 em meio ao barulho ensurdecedor das máquinas que golpeavam essas jovens vidas durante catorze horas todos os dias”. No fim da descrição, uma constatação: “Fora a queda completa do sistema capitalista, não vejo solução possível. E acredito que um pai que vota pela perpetuação do capitalismo é tão mortal quanto se empunhasse uma pistola e assassinasse os próprios filhos”.4

Mother Jones pertence a uma época que viu nascer o socialismo de Eugene Debs e Big Bill Haywood, fundador do IWW; o anarquismo de Emma Goldman; a luta pela libertação de W. E. B. du Bois, o popular jornalista radical de Julius Wayland, editor da publicação socialista Apelo à razão. Perante o peso esmagador das empresas privadas nos Estados Unidos, as ideias desses militantes continuam atuais: mobilizar os norte-americanos por meio dos sindicatos e dos partidos políticos, passando pela rebelião aberta.

É nesse contexto de efervescência social e política que Mother Jones se engajou arduamente na “guerra dos mineradores” da Virgínia Ocidental de 1912-1913 – confronto que deixou pelo menos cinquenta mortos.5Alguns anos mais tarde, no fim da Grande Guerra, sua saúde começou a declinar, assim como suas proezas oratórias. Ela se dedicou então a escrever sua autobiografia. No dia 1° de maio de 1930, seus numerosos simpatizantes acreditaram festejar o centésimo aniversário de Mother Jones – que tinha, na realidade, 93 anos. Seis meses depois, ela faleceu.

Seus amigos a enterraram no cemitério do Sindicato dos Mineradores em Illinois, ao lado dos “militantes valentes” caídos pela causa dos trabalhadores. Milhares de pessoas se reuniram no local para escutar a oração fúnebre do reverendo John Maguire, e outras dezenas de milhares seguiram a transmissão da cerimônia pela WCKL, a rádio operária de Chicago: “Hoje, em suas magníficas mesas de mogno, bem protegidos em capitais longínquas, os proprietários de minas e os capitalistas suspiram aliviados. Hoje, nas planícies de Illinois, nas colinas e vales da Pensilvânia e da Virgínia, na Califórnia, Colorado e Colúmbia Britânica, homens fortes e mulheres esgotadas pelo trabalho derramam lágrimas amargas. A razão é a mesma: Mother Jones está morta”.6

Elliot J. Corn
Professor de história na Universidade Brown e autor de "Mother JOnes: the most dangerous woman in America ( Mother Jones: a mulher mais perigosa da América), Wang and Hill, Nova York, 2001.


1 Upton Sinclair. The coal war [A guerra do carvão]. Boulder: Colorado Associated University Press, 1976.
2 Para encontrar essas diversas cartas, cf. “General records of the department labor, 1907-1942” [Registro geral do Departamento do Trabalho], Arquivo de Chief Clerk, grupo 174, caixa 24, 16/13, e
“Conditions of coal fields in West Virginia” [Condições dos campos de carvão no Oeste da Virgínia], Administração de Arquivos e Registros Nacionais.
3 Mother Jones. The Autobiography of Mother Jones [A autobiografia de  Mother Jones]. Chicago: Charles Kerr, 1925.
4 Mother Jones. Civilization in Southern mills [Civilização nas fábricas do Sul]. International Socialist Review, Chicago, mar. 1901.
5 David A. Corbin. Life, Work, and Rebellion in the Coal Fields: The Southern West Virginia Miners, 1880-1922 [Vida, trabalho e rebelião nos campos de carvão: os mineradores do sudoeste da Virgínia]. Urbana:
University of Illinois Press, 1981.
6 Reverendo John Maguire, Panegyric to Mother Jones [Panegírico a Mother Jones], tirado do boletim semanal da Federação do Trabalho do estado de Illinois, n.16 (37), 1930.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Princípios político-ideológicos do anarquismo

“Opa. Você tem um texto básico sobre anarquismo?” É uma mensagem que recebo com frequência. Caso tenha conhecimento do hábito de leitura de quem realiza a solicitação, eu logo sugiro o livro “No Café” ou “Anarquismo e anarquia”, os dois do anarquista Malatesta.

O pedido também é realizado de outra forma, como “Tem alguma leitura rápida para ter uma noção bem básica sobre anarquismo?” Aí ferrou. Eu nunca sei o que indicar. Lendo o livro “Bandeira Negra: rediscutindo o anarquismo”, do Felipe Corrêa*, um fragmento será a sugestão daqui para frente. Segue;

Princípios político-ideológicos do anarquismo

Por meio da definição de anarquismo apresentada e discutida neste capítulo, pode-se estabelecer um conjunto de princípios político-ideológicos, que permite sumarizá-la. Trata-se, assim, de uma síntese das posições colocadas, de maneira a formular princípios que constituem as bases da ideologia anarquista.

Ética e valores - A defesa de uma concepção ética, capaz de subsidiar críticas e proposições racionais, pautada nos seguintes valores: liberdade individual e coletiva; igualdade em termos econômicos, políticos e sociais; solidariedade e apoio mútuo; estímulo permanente à felicidade, à motivação e à vontade.

Crítica da dominação - A crítica das dominações da classe – constituídas por exploração, coação física e dominações político-burocrática e cultural-ideológica – e de outros tipos de dominação (gênero, raça, imperialismo, etc.).

Transformação social do sistema e do modelo de poder - O reconhecimento de que as estruturas sistêmicas fundamentadas em distintas dominações constituem sistemas de dominação e a identificação, por meio de uma crítica racional, fundamentada nos valores éticos especificados, de que esse sistema tem de ser transformado em um sistema de autogestão. Para isso, torna-se fundamental a transformação do modelo de poder vigente, de um poder dominador, em um poder autogestionário. Nas sociedades contemporâneas, essa crítica da dominação implica uma oposição clara ao capitalismo, ao Estado e às outras instituições criadas e sustentadas para a manutenção da dominação.

Classes e luta de classes - A identificação de que, nos diversos sistemas de dominação, com suas respectivas estruturas de classes, as dominações de classe permitem conceber a divisão fundamental da sociedade em duas grandes categorias globais e universais, constituídas por classes com interesses inconciliáveis: as classes dominantes e as classes dominadas. O conflito social entre essas classes caracteriza a luta de classes. O anarquismo surge como uma ideologia das classes dominadas e tem por objetivo impulsionar essa transformação que implica, para a construção de um poder autogestionário, o fim das classes sociais, a ser levado a cabo em um tipo de socialismo ao qual se chega por meio de uma revolução social. Outras dominações devem ser combatidas concomitantemente  às dominações de classe, sendo que o fim das últimas não significa, obrigatoriamente, o fim das primeiras.

Classismo e força social - A compreensão de que essa transformação social de base classista implica uma prática política, constituída a partir da intervenção na correlação de forças que constitui as bases das relações de poder vigentes. Busca-se, nesse sentido, transformar a capacidade de realização dos agentes sociais que são membros das classes dominadas em força social, aplicando-a na luta de classes e buscando aumentá-la permanentemente. Esse aumento permanente de força social pode ser buscado por meio das práticas junto a agentes dominados em termos de raça, gênero, nacionalidade, mas, nesses casos, essa luta exige uma perspectiva classista e internacionalista, permanente em toda a prática anarquista.

Internacionalismo  - A defesa de um classismo que não se restrinja às fronteiras nacionais e que, por isso, fundamente-se no internacionalismo, o qual implica, no caso das práticas junto a agentes dominados por relações imperialistas, a rejeição do nacionalismo e, nas lutas pela transformação social, a necessidade de ampliação da mobilização das classes dominadas para além das fronteiras nacionais. O projeto revolucionário anarquista prevê uma necessidade de internacionalização da revolução, de maneira a dar condições de existência à autogestão generalizada.

Estratégia - A concepção racional, para esse projeto de transformação social, de estratégias adequadas, que implicam leituras da realidade e o estabelecimento de caminhos para as lutas. Ainda que o método de análise e as teorias não constituam critérios para definir o anarquismo, e nem mesmo critérios para definição de suas correntes, eles sempre são elaborados racionalmente e utilizados, em distintas perspectivas, de acordo com a localidade e a época em que atuam os anarquistas, acompanhando essa perspectiva geográfica e histórica. O objetivo, de tipo finalista, de se chegar a um socialismo que se caracteriza por um sistema de autogestão e um poder autogestionário está sempre presente como perspectiva e projeto dos anarquistas. O caminho para essa transformação é sempre concebido em termos estratégicos.

Elementos estratégicos  - Ainda que os anarquistas defendam estratégias distintas, alguns elementos estratégicos são considerados princípios: o estímulo à criação de sujeitos revolucionários, mobilizados entre os agentes que constituem parte das classes sociais concretas de cada época e localidade, as quais dão corpo às classes dominadas, a partir de processos que envolvem a consciência de classe e do estímulo à vontade de transformação; o estímulo permanente ao aumento de força social das classes dominadas, de maneira a permitir um processo revolucionário de transformação social; a coerência entre objetivos, estratégias e táticas e, por isso, a coerência entre fins e meios e a construção, nas práticas de hoje, da sociedade que se quer amanhã; a utilização de meios autogestionários de luta que não impliquem a dominação, seja entre os próprios anarquistas ou na relação dos anarquistas com outros agentes; a defesa da independência e da autonomia de classe, que implica a recusa às relações de dominação estabelecidas com partidos políticos, Estado ou outras instituições ou agentes, garantindo o protagonismo popular das classes dominadas, o qual deve ser promovido por meio da construção da luta pela base, de baixo para cima, envolvendo a ação direta.

Revolução social e violência  - A busca de uma revolução social, que transforme o sistema e o modelo de poder vigentes, sendo que a violência, como expressão de um nível mais acirrado de confronto, é aceita, na maioria dos casos, por ser considerada inevitável. Essa revolução implica lutas combativas e mudanças de fundo nas três esferas estruturadas da sociedade e não se encontra dentro dos marcos do sistema de dominação presente – está além do capitalismo, do Estado, das instituições dominadoras.

Defesa da autogestão - A defesa da autogestão que fundamenta a prática política e a estratégia anarquistas constitui as bases para a sociedade futura que se deseja construir e envolve socialização da propriedade em termos econômicos, o autogoverno democrático em termos políticos e uma cultura autogestionária. Norteada pelos valores da ética anarquista, essa sociedade é necessariamente socialista e garante a todos liberdade individual e coletiva; igualdade em termos econômicos, políticos e sociais; solidariedade e apoio mútuo; estímulo permanente à felicidade, à motivação e à vontade.


*O texto é um fragmento retirado e adaptado do livro “Bandeira Negra: rediscutindo o anarquismo”, do Felipe Corrêa. Editora Prisma, Curitiba. 2015.

sábado, 1 de agosto de 2015

Depois de Nina

"Escolhi refletir o tempo e as situações em que me encontro. Para mim, isso é o meu dever, e neste momento crucial de nossas vidas, quando tudo é tão desesperador, quando tenta apenas sobreviver cada dia, não tem como não se envolver. Jovens brancos e negros sabem disso, e é por isso que estão tão envolvidos com a política. Vamos modelar e dar forma a este país ou ele não será nem modelado nem receberá forma alguma.  Não se tem escolha... Como ser artista e não refletir a época?"

Nina Simone. 


domingo, 26 de julho de 2015

Programa "Propagar rebeldias" # 01

Faça de conta que você sintonizou uma rádio. No horário a programação apresenta uma seleção de punk rock, músicas carregadas de rebeldia e energia, tudo muito reto e cru. O nome do programa? Você pode chamar de “Propagar rebeldias”.


Eu vagava pelo youtube sem nenhum destino, até pintar a sugestão de ouvir a música “Valetín Alsina“, dos argentinos do Dos Minutos. A letra e a possibilidade de reunir três amigos para fazer uma versão tratando da esquerda do bairro Floresta me animaram. A versão não será uma realidade, mas a música que inspirou a ideia está aí. 

Na última semana conversei com amigos de luta sobre a Irlanda. Motivado pelo papo informal assisti dois filmes sobre os intensos conflitos e o cotidiano violento de Belfast. Belfast lembra punk rock, não é?

Nada melhor do que iniciar com um clássico que está presente em 8 de cada 10 filmes que retratam Belfast nas décadas de 1970 e 1980. 


A banda Rudi pouco conheço. Mas lendo sobre a gravadora Good Vibrations, acabei por encontrar o trio punk Rudi. Fiquei amarrando na sonoridade.

Fecho a programação com uma música para os idiotas que assumem discursos de ódio aos direitos humanos no rolê do rock local. Então, tome uma canção dos Deserdados na sua orelha.


quinta-feira, 23 de julho de 2015

Uma carta de 1871

Eu tenho uma curta experiência com teatro. Não tenho formação acadêmica, somente cursos e leituras avulsas. Entre um trabalho e outro, tomei conhecimento da Carta aos Artistas de Paris, escrita pelo pintor Gustave Coubert, em 19 de março de 1871, na emblemática revolta popular de Paris, a Comuna. A carta de Coubert fala do seu contexto histórico, é claro. Porém, não é possível deixar de considerar que toca pontos silenciados pela classe artística contemporânea. Deixo com você, caro leitor e leitora, a carta de Coubert.


“Paris, 18 de março de 1871

Meus queridos companheiros artistas,


Vocês me deram a honra, em sua reunião, de me indicar seu presidente. Eu os estou convocando aqui, em nome do comitê que foi designado a auxiliar-me, para reportar-lhes sobre nossas fiscalizações e nossas ações. Aproveitaremos também esse encontro para apresentar diversas idéias que surgiram durante o exercício de nossas atividades, em uma proposta para uma nova reorganização da Administração das Belas Artes, que tem como objetivo promover a Exposição e os interesses das artes e dos artistas.


As administrações anteriores que governaram a França quase destruíram a arte sob sua proteção, ao suprimir sua espontaneidade. Essa abordagem feudal, sustentada por um governo despótico e discricionário, não produziu nada além de arte aristocrática e teocrática, justamente o oposto das tendências modernas, de nossas necessidades, de nossa filosofia, e da revelação do homem manifestando sua individualidade e sua independência física e moral. Hoje, numa época em que a democracia deve reger todas as coisas, seria ilógico a arte, que conduz o mundo, ficar para trás na revolução que está ocorrendo agora na França.



Para alcançar esse objetivo, discutiremos em uma assembléia de artistas os planos, projetos e idéias que nos serão submetidos, no intuito de realizar uma nova reorganização da arte e de seus interesses materiais.



Não há dúvidas que o governo não deve tomar a dianteira em questões públicas, pois não é capaz de carregar em seu interior o espírito de uma nação; consequentemente, qualquer proteção será em si mesma prejudicial. As academias e o Instituto, que apenas promovem a arte convencional e banal, para que sejam julgados por seus integrantes, opõem-se necessária e sistematicamente a novas criações da mente humana e infligem a morte de mártires em todos os homens inventivos e talentosos, em detrimento de uma nação e para a glória de uma tradição e doutrina estéreis.



Vejam, por exemplo, o caso deplorável da École des Beaux-Arts, favorecida e subsidiada pelo governo. Essa escola não apenas desvia nossos jovens, mas nos priva da arte francesa, com suas finas procedências, favorecendo, sobretudo, a tradição túrgida e religiosa italiana, que vai de encontro ao espírito da nossa nação. Essas condições podem apenas perpetuar a arte pela arte e a produção de trabalhos estéreis, sem caráter ou convicção, enquanto nos privam de nossa própria história e espírito sem qualquer compensação.



Portanto, para tomarmos decisões sobre bases mais racionais e mais adequadas aos nossos interesses comuns, no intuito de abolir os privilégios, as falsas distinções que estabelecem entre nós hierarquias perniciosas e ilusórias, é desejável que os artistas (como nas províncias e em todos os países vizinhos) definam seu próprio curso. Deixe que eles determinem como farão as exposições; deixe que definam a composição dos comitês; deixe que obtenham o local onde será a próxima exposição. Isso pode ser resolvido até 15 de maio, pois é urgente que todos os franceses comecem a ajudar o país a se salvar de um imenso cataclismo.



É impossível que qualquer artista não tenha um ou dois trabalhos que ainda não tenham sido exibidos. Para os demais, chamaremos artistas estrangeiros. Excluiremos, certamente, os artistas alemães, mesmo que isso seja contrário aos princípios da descentralização e solidariedade. Mas os alemães, após terem se beneficiado de aquisições francesas e comissões por tanto tempo sem reciprocidade, nos obrigam, por sua traição e espionagem, a tomar tal atitude nesse momento.



O local de encontro será anunciado em breve, bem com o as propostas a serem submetidas aos artistas.



Saudações fraternais,



G. Courbet”

domingo, 19 de julho de 2015

Dossiê Malatesta

Queremos mudar radicalmente tal estado de coisas. E visto que todos estes males derivam da busca do bem-estar perseguido por cada um por si e contra todos, queremos dar-lhe uma solução, substituindo o ódio pelo amor, a concorrência pela solidariedade, a busca exclusiva do bem-estar pela cooperação, a opressão pela liberdade, a mentira religiosa e pseudocientífica pela verdade.

Errico Malatesta (Fonte aqui.)


O dia 22 de julho de 1932 foi marcado pela morte do anarquista italiano Errico Malatesta. A trajetória de vida do Malatesta foi dedicada à luta revolucionária. Viajou e lutou na Europa, no norte da África e na América Latina. O presente dossiê é uma seleção de artigos para conhecer o trabalho militante do Malatesta. 

Atividade realizada em Joinville, ano passado. Informações clique aqui

No Brasil não foi publicado livro biográfico do Malatesta. Mas é possível ler artigos biográficos que apresentam um pouco da história de vida e das visões políticas e estratégicas do companheiro de luta. Eu destaco o artigo do professor Maurício Tragtenberg, que publicou na Folha de São Paulo, no dia 16 de janeiro de 1983, o artigo "A atualidade de Errico Malatesta". Para ler clique aqui

A Organização Resistência Libertária, do Ceará, integrante da Coordenação Anarquista Brasileira, elaborou um caderno de formação política com artigos do Malatesta. Os artigos correspondem a nossa concepção de anarquismo, teoria e sindicalismo. Clique aqui para acessar o material. 

O portal Protopia oferece um banco de textos de autoria do Malatesta, basta clicar aqui. A minha sugestão é começar a leitura pelo livro "Escritos Revolucionários", clique aqui. É a obra mais indicada para conhecer a concepção de Malatesta sobre anarquismo. 

“Porém, nós anarquistas não podemos emancipar o povo, queremos que o povo se emancipe. Não acreditamos no bem que vem do alto e se impõe pela força; queremos que o novo modo de vida social surja das vísceras do povo, que corresponda ao grau de desenvolvimento alcançado pelos homens e que possa progredir na medida em que eles progridem. A nós importa, portanto, que todos os interesses e todas as opiniões encontrem em uma organização consciente a possibilidade de fazer-se valer e de influir sobre a vida coletiva em proporção a sua importância.”

Errico Malatesta (Fonte aqui.)

O companheiro e pesquisador Felipe Corrêa tem um depoimento em vídeo sobre Malatesta. O vídeo aborda dados biográficos, ambiente político, teoria social, anarquismo, ideologia e estratégia. O material discute a contribuição de Malatesta para o anarquismo especifista, que é defendido pela Coordenação Anarquista Brasileira



"Não se trata, portanto, de chegar à anarquia hoje ou amanhã, ou em dez séculos, mas caminhar rumo a anarquia hoje, amanhã e sempre." 

Errico Malatesta (Fonte aqui.)

sábado, 18 de julho de 2015

Dane-se o STAMMTISCH!!!

Cada cidade tem a classe dominante que merece. Mentira. Cada cidade tem a classe dominante de acordo com sua formação social e histórica. 

Em Joinville, se construiu um imaginário que somos uma cidade “alemã”. Por conta disso, diferentes atividades são realizadas em defesa do imaginário e pela manutenção da tradição, é claro que a classe dominante não lembra que as tradições são invenções, como disse o velho historiador “Ruberval” (como era chamado carinhosamente no corredor do Bloco A, na UNIVILLE).

Os mais velhos costumam sentar numa mesa e beber com o seu grupo seleto de amigos. Os amigos em sua maioria são brancos, de origem alemã. O evento é conhecido por STAMMTISCH. Nos últimos anos, o STAMMTISCH tomou uma proporção entre o público jovem que “se veste bem e tem poder de compra”.

O motivo do post é o STAMMTISCH da Câmara dos Dirigentes Lojistas. O STAMMTISCH é um evento que as pessoas ditas de “origem” se encontram para beber, beber e beber em via pública. O novo “caráter” do STAMMTISCH foi abraçado pelos jovens empreendedores da ACIJ, inclusive da CDL. Ou seja, são os ricos querendo bancar "de alemão". Chega a ser bizarro.

A CDL publicou o regulamento do STAMMTISCH de 2015, que acontece no mês de outubro, na rua da diversão da “playboy”. 

A cláusula 30ª diz; “Por ser evento de cultura germânica, não será permitido samba, pagode, chorinho, rock, e outros estilos que descaracterizem essa etnia.

Qual é o motivo da indignação? Vou pontuar.

  1) Em 2013, esta mesma elite atacou a luta do movimento negro. Conseguiram cancelar o dia 20 de novembro como feriado da consciência negra. Leia aqui.

   2) É a mesma elite responsável pela exploração econômica nos postos de trabalho e será a beneficiada com o projeto da Lei de Ordenamento Territorial, a LOT.

  3) A política cultural da Fundação Cultural de Joinville tem se dedicado a essa elite.


Caso eu fosse fazer a linha de DJ no "anti-STAMMTISCH", já tenho uma seleção prévia para um sonoro foda-se a classe dominante. 

Le Fly para começar em ritmo de festa transglobal radical e futebol

The Buttocks com "nein nein nein". 

Rasta Knast cantando um punk rock brasileiro.

Nena com os seus 99 balões vermelhos

Atari Teenage Riot com sua fúria do rolê eletrônico. 

Entrails Massacre para fazer a digestão.

Nada melhor do que finalizar a seleção com uma demonstração pública da desordem e caos alemão.