segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Um dia para dizer "Ditadura Nunca Mais!"

Texto originalmente publicado na página do Centro dos Direitos Humanos Maria da Graça Bráz (aqui).

Um dia para dizer Ditadura Nunca Mais!

A luta contra a ditadura civil-militar (1964-1985) nunca deixou de acontecer, mesmo nos anos da ditadura. No final da década de 1970 até o momento, coletivos e movimentos sociais reivindicam o direito à memória, à verdade e à justiça. No momento, pouco o Estado brasileiro realizou para fazer justiça punindo quem realizou o golpe de 1964 e as violações de direitos humanos.

Em Santa Catarina, resultado da pressão popular organizada em torno do tema, o dia 1º de abril foi decretado como Dia Estadual do Direito à Memória e à Verdade, como consta na Lei Nº 16.549, assinada pelo governador Raimundo Colombo. A luta organizada arrancou do governador Colombo um dia para lembrar os homens e as mulheres que combateram os tempos sombrios para milhares de trabalhadores e trabalhadoras.

Ao contrário do tom irônico que a escolha da data foi abordada pela crônica política catarinense, o 1º de Abril visa combater a perspectiva que o Estado brasileiro escamoteia. A Lei do Dia da memória e verdade abre espaço para inserir no âmbito escolar os seguintes pontos da história;

A) A ditadura como resultado de um golpe articulada por setores civis e militares para atender as demandas da classe dominante.

B) A ditadura realizou diferentes métodos de torturas, sequestros e violações de direitos humanos contra a humanidade.

C) Em Santa Catarina a repressão também aconteceu, inclusive com setores civis catarinenses beneficiados com agentes, assim como o povo catarinense resistiu aos tempos sombrios.

D) É possível debater as permanências da ditadura no período democrático, como a repressão ao movimento sindical, estudantil e social, assim como as violações realizadas pela Polícia Militar de Santa Catarina. Cabe à equipe pedagógica nas Escolas, assim como a Secretária da Educação de Santa Catarina, fornecer preparação para educadores e educadoras para atuar com o tema. Os direitos humanos são os norteadores para o trabalhar o tema. Neste sentido, os projetos e aulas deverão refletir e agir em defesa de toda vida humana, independente da fé religiosa, orientação ideológica, nacionalidade, sexualidade no intuito claro de combater as opressões.

O Centro dos Direitos Humanos Maria da Graça Bráz, entidade fundada no combate a Ditadura Civil-Militar, está disposta a dialogar com educadores e educadoras sobre o tema, cobrar do Estado a formação, estimular os sindicatos e as entidades do movimento estudantil para pensar e agir em torno da memória e da verdade, tendo como norte arrancar a justiça com a punição dos violadores de direitos humanos nos 21 anos de ditadura civil-militar.

Como escreveu Malatesta, “Ao trabalho, companheiros! A tarefa é grande. Ao trabalho todos!


Maikon Jean Duarte é professor de História e diretor do Colegiado do Centro dos Direitos Humanos Maria da Graça Bráz

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Sobre AJOTE, ACIJ e AJOPERME

Eu sou um entusiasta do trabalho da AJOTE (Associação Joinvilense de Teatro, aqui). A entidade é uma referência no trabalho associativo da classe artística local. Por isso, tentei fomentar o debate sobre o evento #Ocupacidadela e o Manifesto do Cena 11 (aqui). 

Espero que o debate seja entendido como algo político e não seja levado para “picuinhas” e afins.

Lendo a coluna Orelhada (06/02) fiquei meio de cara com a notícia:

Ainda não é a colheita dos frutos, mas pode-se dizer que as sementes começaram a germinar. É que foram bem satisfatórias os encontros dos líderes da Associação Joinvilense de Teatro (Ajote) com vereadores, Fundação Cultural e Convention Bureau, agendados com base no manifesto em prol da cultura joinvilense divulgado em dezembro. Na reunião com a FCJ, o presidente Rodrigo Coelho informou que está sendo preparada uma cartilha que incentivará as empresas locais a se voltarem aos produtores por meio da Lei Rouanet. O mesmo se deu na Câmara, onde o vereador Fábio Dalonso sugeriu uma moção, a ser entregue a CDL, Ajorpeme e Acij, pedindo aos associados destas entidades que olhem com carinho a arte feita em Joinville. Aliás, reuniões com essas siglas também estando sendo agilizadas. Já o Convention Bureau se comprometeu a reforçar a inclusão dos eventos culturais no aplicativo Visit Joinville, mais voltado aos turistas, mas um bom canal de consulta para qualquer cidadão.
- Avaliamos que nosso manifesto tenha ajudado essas ações a começarem a sair do papel – diz Cassio Correia, presidente da Ajote, lembrando que a força-tarefa não é somente pelo teatro, mas representa coletivos de todas as áreas da cultura joinvilense.

Na minha timeline encontrei vários comentários elogiosos para ação do vereador Fábio Dalonso, o defensor da ditadura (quem acompanhou o debate sobre a Comissão Municipal da Verdade está por dentro.), e do Piu-Piu, presidente da Fundação de Entretenimento de Joinville.

A abertura da classe empresarial para “incentivar” a produção teatral local por meio da isenção fiscal é a saída para alimentação de uma cena teatral local?

A ação que saiu do papel é o mesmo que já rola no Brasil!  Então, eu pensei que a reivindicação era por políticas públicas.

Ninguém lembrou o quanto o modelo da Lei Rouanet é perverso e censura produções experimentais, questionadoras e que tocam com os dez dedos nas feridas?  


É hora de “humanizar” o capital da elite joinvilense? 

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Pular (ou:passar por baixo) catraca: uma ação direta para um direito conquistar.

Reproduzo um breve texto publicado no site À margem (aqui). A fotografia ao lado é do Marcus, do Coletivo Metranca. A proposta é estimular a ação de todos e todas na luta popular contra a tarifa. 

Pular (ou:passar por baixo) catraca: uma ação direta para um direito conquistar.

Depois de uma jornada de trabalho, um jovem trabalhador diz: “Pula a catraca hoje, paga a tarifa amanhã”. Eu estava cansado, sem forças mentais para debater o assunto com o jovem trabalhador, nem o seu nome o conhecia. Faltou iniciativa da minha parte, mas tento suprir o meu descuido com o debate com o presente texto que as letras formam na frente dos seus olhos, meu caro leitor e minha cara leitora.
A história das conquistas sociais nos últimos 200 anos está marcada por pequenos gestos e ações organizados e espontâneos:
A rebeldia necessária de cada dia que se manifestou em piquetes grevistas em Chicago, por volta de 1886, para exigir 8 horas de trabalho, 8 horas de lazer e 8 horas de descanso;
O levantar dos povos originários da América Latina que levantaram as suas vozes e braços contra o colonialismo;
A insurgência de trabalhadores/as contra a carestia da vida, condições de trabalho e os péssimos salários nas greves de 1917;
A permanência da trabalhadora negra Rosa Parks no banco de ônibus destinado ao uso exclusivo de brancos;
A insistência para derrubar a opressão contra a comunidade LGBT em Stonewall;
A força de operários e operárias contra a ditadura na Joinville de 1970.
Os gestos e ações são demonstrações de ataques diretos aos anseios de riqueza dos pequenos grupos concentrados na classe dominante. Ao pular a catraca você ataca diretamente o acúmulo de riquezas das empresas, da ACIJ, da CDL e da Prefeitura.
Ao pular a catraca você traz o protagonismo da ação política para si. É a ação direta em suas mãos. Pular a catraca solitariamente é um risco para sua integridade física, é claro. Mas para evitar este problema, tomar parte da organização dos atos catraqueiros com os movimentos existentes ou com seus companheiros e suas companheiras de trabalho e de estudo, assim como o registro dos atos catraqueiros, é um estimular para rebeldia avançar frente à cidade segregada por catracas.
* Maikon Jean Duarte é militante do Coletivo Anarquista Bandeira Negra, que integra a Coordenação Anarquista Brasileira, e também atua no Centro dos Direitos Humanos Maria da Graça Bráz