terça-feira, 31 de maio de 2016

Publico o Projeto Lei Ordinária - 221/2014 da vereadora Pastora Léia, do PSD.

O projeto pretende instituir no sistema municipal de ensino de Joinville, o "Programa Escola sem Partido". 

Título:Projeto Lei Ordinária - 221/2014

Art. 1º  Fica criado, no âmbito do sistema municipal de ensino de Joinville, o "Programa Escola sem Partido", atendidos os seguintes princípios:

I - neutralidade política, ideológica e religiosa do Município;
II - pluralismo de ideias no ambiente acadêmico;
III - liberdade de aprender, como projeção específica, no campo da educação, da liberdade de consciência;
IV - liberdade de crença;
V - reconhecimento da vulnerabilidade do educando como parte mais fraca na relação de aprendizado;
VI - educação e informação do estudante quanto aos direitos compreendidos em sua liberdade de consciência e de crença;
VII - direito dos pais a que seus filhos menores recebam a educação moral que esteja de acordo com suas próprias convicções.

Art. 2º É vedada a prática de doutrinação política e ideológica em sala de aula, bem como a veiculação, em disciplina obrigatória, de conteúdos que possam estar em conflito com as convicções religiosas ou morais dos estudantes ou de seus pais ou responsáveis.

§ 1º Tratando-se de disciplina facultativa em que sejam veiculados os conteúdos referidos na parte final do caput deste artigo, a frequência dos estudantes dependerá de prévia e expressa autorização dos seus pais ou responsáveis.
§ 2º As escolas confessionais, cujas práticas educativas sejam orientadas por concepções, princípios e valores morais, religiosos ou ideológicos, deverão obter dos pais ou responsáveis pelos estudantes, no ato da matrícula, autorização expressa para a veiculação de conteúdos identificados com os referidos princípios, valores e concepções.
§ 3º Para os fins do disposto nos parágrafos 1º e 2º deste artigo, as escolas deverão apresentar e entregar aos pais ou responsáveis pelos estudantes material informativo que possibilite o conhecimento dos temas ministrados e dos enfoques adotados.

Art. 3º No exercício de suas funções, o professor:

I - não abusará da inexperiência, da falta de conhecimento ou da imaturidade dos alunos, com o objetivo de cooptá-los para esta ou aquela corrente político-partidária;
II - não favorecerá nem prejudicará os alunos em razão de suas convicções políticas, ideológicas, morais ou religiosas, ou da falta delas;
III - não fará propaganda político-partidária em sala de aula nem incitará seus alunos a participar de manifestações, atos públicos e passeatas;
IV - ao tratar de questões políticas, socioculturais e econômicas, apresentará aos alunos, de forma justa ? isto é, com a mesma profundidade e seriedade ?, as principais versões, teorias, opiniões e perspectivas concorrentes a respeito;
V - salvo nas escolas confessionais, deverá abster-se de introduzir, em disciplina ou atividade obrigatória, conteúdos que possam estar em conflito com as convicções morais, religiosas ou ideológicas dos estudantes ou de seus pais ou responsáveis.

Art. 4º As escolas deverão educar e informar os alunos matriculados no ensino fundamental e no ensino médio sobre os direitos que decorrem da liberdade de consciência e de crença asseguradas pela Constituição Federal, especialmente sobre o disposto no artigo 3º desta lei.

§ 1º Para o fim do disposto no caput deste artigo, as escolas afixarão nas salas de aula, nas salas dos professores e em locais onde possam ser lidos por alunos e professores, cartazes com o conteúdo e as dimensões previstas nos Anexos desta Lei.
§ 2º Nas instituições de educação infantil, os cartazes referidos no parágrafo 1º deste artigo serão afixados somente nas salas dos professores.

Art. 5º A Secretaria Municipal de Educação promoverá a realização de cursos de ética do magistério para professores da rede pública, abertos à comunidade escolar, a fim de informar e conscientizar os educadores, os estudantes e seus pais ou responsáveis, sobre os limites éticos e jurídicos da atividade docente, especialmente no que se refere aos princípios referidos no art. 1º desta lei.

Art. 6º A ouvidoria do município comunicará a Secretaria Municipal de Educação as reclamações relacionadas ao descumprimento desta lei, assegurado o anonimato.
Parágrafo único. As reclamações referidas no caput deste artigo deverão ser encaminhadas ao órgão do Ministério Público, incumbido da defesa dos interesses da criança e do adolescente, sob pena de responsabilidade.


Art. 7º  Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação.

segunda-feira, 28 de março de 2016

Notícias 03/2016.

Uma modesta reunião de notícias, entrevistas, artigos, etc. O objetivo da reunião é oferecer diferentes recortes sobre os acontecimentos no Brasil e no mundo. 

O blog está aberto para sugestões e dicas. 

Bons estudos, meus queridos e minhas queridas. 

| Relações entre Cuba e EUA |

Fotografia expressiva com dois símbolos da política do continente americano. O Che,referência do povo latino americano, e Obama, primeiro presidente negro dos Estados Unidos. (fonte aqui)

Beisebol, diplomacia e tragédia – por Leonardo Padura, um dos grandes nomes da literatura cubana. (aqui)

Cuba e a discussão sobre os possíveis presos políticos. (aqui

Reportagem sobre a coletiva de imprensa (aqui)

Obama em Havana e Fidel em Nova York (aqui)

O jornalismo livre que começa a brotar em Cuba (aqui)

O Irmão Obama (aqui)

| Crise política em 2016 |

A visão do historiador José Murilo de Carvalho (aqui)

Reflexos intolerantes nas escolas (aqui)

Diferentes olhares sobre a crise política (aqui e aqui)

Impeachment artificial faz Brasil abrir fraturas expostas a cada dia (aqui)

A voz da periferia insatisfeita que (ainda) não foi protestar contra Dilma e o PT (aqui)

Lava Jato testa seus limites legais (aqui)

Acima dos muros (aqui)

Análise política da última semana de março (aqui)

| Estado Islâmico, ISIS e terrorismo |

Diferentes artigos e notícias sobre o atentado na Bélgica (aqui)

A nova normalidade (aqui)

Por que a Bélgica se tornou alvo dos terroristas (aqui)

Atentado terrorista no Paquistão mata 72 pessoas (aqui)


 | Imigrações, refugiados e direitos humanos |

As rotas de imigração no mediterrâneo (aqui)

O cemitério dos imigrantes sem nome (aqui)

| Arte e Sociedade |

Especial trata de conexões de países latino-americanos com dispersão de obras durante a 2ªGuerra (aqui)

| Ditaduras nos países latino-americanos |

Obama admite que EUA “demoraram a defender os direitos humanos” na América Latina (aqui)

Como a ditadura militar agia nas favelas do Rio de Janeiro (aqui)

Como a ditadura perseguiu militantes negros (aqui)

Pesquisas mostram que resistência à ditadura não foi apenas de pequenos grupos (aqui)

Milhares de argentinos vão às ruas nos 40 anos do golpe (aqui)

| Violências |

Violência policial: uso e abuso (aqui)

A política está sendo instrumentalizada pela política (aqui)

Reações diversas da PM em protestos, fator de risco em meio à polarização (aqui)

 | Gênero e feminismo |

Às que viveram antes de nós: histórias do Dia Internacional das Mulheres (aqui)

 | Religiosidade e intolerância |

Estado de espírito – reportagem especial sobre as práticas religiosas em Santa Catarina (aqui)

| Eleições nos EUA |

Eleições nos Estados Unidos (aqui)

Não há motivos para tanta raiva nos EUA (aqui)

Trump sempre foi Trump (aqui)

O discurso político de Sanders (aqui)






terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Sobre o lazer das mulheres e o carnaval em Joinville/Sc

Lendo a dissertação de mestrado A CIDADE DA ORDEM : TENSÕES SOCIAIS E CONTROLE ( JOINVILLE 1917/1943), de Iara Andrade Costa, encontrei um fragmento emblemático para semana que antecede o carnaval na cidade do prefeito/patrão Udo. É curiosa a permanência em certos aspectos dos anos de 1920 em pleno 2016. 



Enquanto se elogiavam as festas (nota: da colheita e religiosas), que eram raras, mas vividas intensamente ao lado do trabalho e da disciplina, criticava-se, por outro lado, os hábitos do "footing" aos domingos, onde as moças desfilavam "durante a tarde inteira" ao redor das praças centrais, com toalete a rigor e onde não se costumava repetir os trajes .

Para um articulista da época, isto demonstrava a frivolidade das moças e só lhes trazia prejuízo e desdém pois, segundo ele.

... afugentam de si qualquer inclinação séria, que por ventura tenham inspirado para um fim nobre, porque não há rapaz algum, sério e bem intencionado, que não receie unir o seu destino ao de uma jovem, que gosta de exibir-se a ponto de passar horas inteiras, perambulando pelas ruas, numa vadiação inconseqüente, quando podia empregar muito mais a propósito, tempo tão precioso, no preparo e no arranjo do seu lar, do conforto dos seus, aprofundando a sua instrução, ajudando nesses mil pequenos nada, em que uma moça ou uma senhora sempre pode se ocupar, seja qual for a fortuna que Deus a brindou. ...

O importante, e o que se valorizava era o trabalho produtivo. O lazer das cidades brasileiras, como o "footing", o carnaval, onde se "brinca " quatro dias e depois disso a cabeça do trabalhador "anda a roda", era vista como sintoma da desordem. Valorizava-se os bailes públicos por serem mais controlados, tanto na ordem como na harmonia e animação. O corso foi sempre uma tentativa de tornar o carnaval da região mais popular, mas na imprensa sempre apareceu com uma nota de repúdio pelo seu "caráter" de bagunça, desorganização e provocador de acidentes por conta da imprudência dos "foliões ".

A elitização do carnaval de salão, aqui sempre foi uma constante, assim como a queixa de falta de lazeres públicos, principalmente nos finais de semanas chuvosos, quando a tristeza, a "falta do que fazer" imperava na cidade. Em 1928, noticiava-se a ausência de carnaval nas ruas. "Este ano pelo que parece não haverá carnaval de rua com cordões carnavalescos, blocos, ranchos para quebrar as "monotonias " das ruas, pois faltam só dois dias e nada se fala, a não ser nos carnavais de salões que pelo que tudo indica, já é alguma coisa ". II

Os domingos, refletiam a tristeza, onde a "falta do trabalho" rotineiro, levaria a vadiagem, reforçando a idéia de trabalho produtivo, somente o comercial ou industrial. Mas o que parecia mais triste era o retrocesso do lazer, conforme avançava o processo de industrialização e o crescimento da cidade.

Domingo morreu, na tristeza de uma trovoada. (...) Sente-se que nos domingos, todo o encanto da nossa mocidade e toda a alegria do nosso povo expansivo se perde na vastidão das ruas desorientado. Falta-nos um parque, um centro de diversão onde Joinville toda pudesse concentrar-se e viver, numa tarde de domingo as alegrias e as emoções de uma reunião festiva. Antes, Joinville oferecia às tardes, centros de reuniões magníficos, nos seus parques, nos seus jardins, onde ß'eqüentemente orquestras e bandas musicais, punham notas vivas e atraentes de uma arte bem cuidada.
Hoje (...) vir-se-ia que Joinville retrograda. E se não fora a evidência das nossas forças econômicas, manifestadas no comércio e nas indústrias florescentes, crê-lo-íamos fracamente. III

O discurso da cidade maravilhosa, ordeira e laboriosa, trazia ao mesmo tempo, uma preocupação enorme com a outra Joinville, que diretamente proporcional ao seu encantamento e desenvolvimento, descobria-se que além da falta de lazer, tinha-se problemas muito sérios a serem contornados como a mendicância, higiene e saúde, policiamento, habitação, água, instrução, transportes, jogos, etc.

Notas
I – JOÃO DA MATTA Bancando o Chie. Jornal de Joinville. Joinville, 14 de Janeiro de 1924 N. 12 Ano

II - Está chegando a hora !. Jornal de Joinville. Joinville, 16 de Fevereiro de 1928, N. 40, Ano X, p.l


III -  Locais. Jornal de Joinville. Joinville, 21 de Janeiro de 1919, N.09 , Ano I p.2

sábado, 23 de janeiro de 2016

Um fragmento do livro A trégua.

O fragmento foi retirado do livro “A trégua”, de Mario Benedetti.


O livro é o diário do personagem Martín Santomé, um dedicado trabalhador na burocracia movida por números, cálculos, relatórios e informes. Prestes a abraçar o ócio por conta da sua aposentadoria, Santomé diz não para uma promoção ao cargo de gerente. O livro não se resume a está questão, tem muito mais na verdade. É um livro fundamental da literatura latino-americana do século que passou. Eu teria tantas linhas para falar sobre a obra. Penso que é melhor deixar o fragmento expressar a ironia de Benedetti. 


“Sábado, 17 de agosto


Esta manhã, estive falando com dois membros da Diretoria. Coisas sem grande importância, mas que bastaram, no entanto, para me fazer entender que eles sentem por mim um amável, compreensivo desprezo. Imagino que, quando refestelam nos macios assentos da sala da Diretoria, devem sentir-se quase onipotentes, ou pelo menos tão próximos do Olimpo quanto pode chegar a sentir-se uma alma sórdida e escura. Alcançaram o máximo. Para um jogador de futebol, o máximo significa chegar um dia a integrar a seleção nacional; para um místico, comunicar-se alguma vez com seu Deus; para um sentimental, encontrar em outro ser, em alguma ocasião, o verdadeiro eco dos seus sentimentos. Para esta pobre gente, em contraposição, o máximo é conseguir sentar-se nas poltronas de dirigentes, experimentar a sensação (que para outros seria tão incômoda) de que alguns destinos estão em suas mãos, alimentar a ilusão de que resolveram, de que dispõem, de que são alguém. Hoje, no entanto, ao observá-los, eu não conseguia encontrar neles uma cara de Alguém, mas sim de Algo. Parecem-me Coisas, e não pessoas. Mas o que lhes parecerei eu? Um imbecil, um incapaz, um joão-ninguém que se atreveu a recusar uma oferta do Olimpo. Uma vez, faz muitos anos, ouvi o mais velho deles dizer: “O grande erro de alguns homens de comércio é tratar seus empregados como se estes fossem seres humanos.” Nunca me esquecerei dessa frasezinha, simplesmente porque não a posso perdoar. Não só em meu nome, como também em nome de todo o gênero humano. Agora sinto a forte tentação de inverter a frase e pensar: “O grande erro de alguns empregados é tratar seus patrões como se estes fossem pessoas.” Mas resisto a essa tentação. Eles são pessoas, sim. Não parecem, mas são. E pessoas dignas de uma odiosa piedade, da mais infamante das piedades, porque a verdade é que formam para si uma casca de orgulho, uma embalagem repugnante, uma sólida hipocrisia, mas no fundo são ocos. Asquerosos e ocos. E padecem a mais horrível variante da solidão: a solidão daquele nem sequer tem a si mesmo.”

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

O que a vida significa para mim - Jack London

No período de férias li alguns contos escritos por Jack London, célebre escritor e socialista dos EUA. O post de hoje é o conto "O que a vida significa para mim", publicado pela Editora Expressão Popular

O que a vida significa para mim

Jack London.

Nasci na classe trabalhadora. Cedo descobri o entusiasmo, a ambição e os ideais; e satisfazê-los tornou-se o problema da minha infância. Meu ambiente era cru, áspero e rude. Não via nenhuma perspectiva ao meu redor, por isso, o melhor era olhar para cima. Meu lugar na sociedade era nos fundos. Aqui a vida não oferecia nada, além de sordidez e miséria, tanto para o corpo como para o espírito. Por aqui corpo e espírito andavam famintos e atormentados.

Acima de mim se erguia o imenso edifício da sociedade e, em minha mente, a única saída era para cima. Logo resolvi subir. Lá em cima, os homens vestiam ternos pretos e camisas engomadas e as mulheres usavam vestidos lindos. Havia também coisas boas para comer e muita fartura. Abundância para o corpo. Depois havia as coisas do espírito. Acima de mim, eu sabia, havia despojamento do espírito, pensamentos puros e nobres e uma vida intelectual intensa. Eu conhecia tudo isto porque lera romances na biblioteca Seaside, nos quais, com exceção dos vilões e dos aventureiros, todos os homens e mulheres tinham pensamentos puros, falavam uma linguagem bonita e realizavam ações generosas. Em resumo, assim como eu aceitava o nascer do Sol, aceitava que acima de mim estava tudo o que era fino, nobre e belo, tudo o que dá decência e dignidade à vida, tudo o que faz a vida valer a pena e recompensa um homem por seu sofrimento e esforço.

Mas não é muito fácil para um homem ascender e sair da classe trabalhadora - especialmente se está cheio de ambições e ideais. Eu vivia num rancho na Califórnia, e era duro descobrir o caminho para subir. Cedo quis saber qual a taxa de juros do dinheiro aplicado, e preocupava meu cérebro de criança a compreensão das virtudes e excelências desta notável invenção do homem, os juros compostos. Mais tarde conheci os níveis de salário praticados para trabalhadores de todas as idades, e o custo de vida. Com todos estes dados, conclui que, se começasse imediatamente, trabalhasse e poupasse até os cinquenta anos, poderia parar de trabalhar e desfrutar de uma pequena porção das delícias e maravilhas que estariam a meu alcance um pouco acima na sociedade. E, claro, decidi não me casar, ao mesmo tempo em que me esquecia inteiramente de considerar esta grande causa da catástrofe no universo da classe trabalhadora - a doença.

Mas a vida que havia em mim exigia mais que uma pobre existência de restos e de escassez. Aos dez anos de idade, tornei-me jornaleiro nas ruas da cidade e descobri uma nova perspectiva. Tudo ao meu redor estava impregnado da mesma sordidez e desgraça, e acima de mim existia ainda o mesmo paraíso, esperando para ser conquistado. Mas o caminho para subir era diferente. Era o mundo dos negócios. Por que poupar meus ganhos e investir em papéis do governo quando, comprando dois jornais por cinco centavos, num piscar de olhos, podia vendê-los por dez e dobrar meu capital? O mundo dos negócios era para mim o meio de subir na vida, e eu me via como negociante quadrado e bem-sucedido.

Ai das visões! Quando tinha dezesseis anos me chamavam de “príncipe”. Este título me foi dado por uma gangue de assassinos e ladrões, que me chamavam de “O príncipe dos piratas de água doce”.

Naquele tempo eu tinha galgado o primeiro degrau no mundo dos negócios. Era um capitalista. Possuía um barco e uma tripulação completa de piratas de água doce. Tinha começado a explorar meus semelhantes. Toda uma equipe estava sob meu comando. Como capitão e dono, ficava com dois terços do dinheiro e dava à tripulação o outro terço, embora eles trabalhassem tão duro quanto eu e arriscassem tanto quanto eu suas vidas e sua liberdade.

Este degrau foi o último que subi no mundo dos negócios. Uma noite, participei de um assalto a pescadores chineses. Suas linhas e redes valiam dólares e centavos. Era um roubo, claro, mas era este precisamente o espírito do capitalista. O capitalismo toma os bens de seus semelhantes a título de reembolso, traindo a confiança ou comprando senadores e juizes de tribunais superiores. Eu era apenas mais grosseiro. Essa era a única diferença. Eu usava um revólver.

Mas, naquela noite, minha equipe agiu como aqueles incompetentes que o capitalista está acostumado a fulminar, sem dúvida porque estes incompetentes aumentam os custos e reduzem os lucros. Minha quadrilha fez as duas coisas. Por falta de cuidado, tocou fogo na vela principal, destruindo-a totalmente. Não houve lucro aquela noite, e os pescadores chineses ficaram mais ricos pelas redes e linhas que não pagamos. Eu estava arruinado, sem condições sequer de pagar sessenta e cinco dólares por uma nova vela principal. Deixei meu barco ancorado e saí num barco de piratas na baía para uma viagem de saques pelo rio Sacramento. Enquanto estava fora, outro bando de piratas da baía saqueou meu barco. Roubaram tudo, até mesmo as âncoras; e mais tarde, quando recuperei o casco abandonado, obtive apenas vinte dólares por ele. Tinha descido o primeiro degrau galgado, e nunca mais tentei o caminho dos negócios.
Desde então fui implacavelmente explorado por outros capitalistas. Tinha força física, e eles faziam dinheiro com isso enquanto que, apesar do meu esforço, eu levava uma vida banal. Fui marinheiro, estivador e grumete. Trabalhei em fábricas de enlatados, indústrias e lavanderias. Cortei grama, limpei tapetes e lavei janelas. E não ganhava nunca o produto inteiro do meu trabalho. Olhava para a filha do dono da fábrica de enlatados, em sua carruagem, e sabia que eram meus músculos que ajudavam a empurrar aquela carruagem em seus pneus de borracha. Via o filho do industrial indo para a escola e sabia que era em parte a minha força que ajudava a pagar seu vinho e suas boas amizades.

Mas não ficava ressentido com isso. Fazia parte do jogo. Eles eram a força. Muito bem, eu era forte. Podia cavar um lugar entre eles e fazer dinheiro com a força de outros homens. Não tinha medo do trabalho. E quanto mais duro, melhor, mais me agradava. Gostaria de me entregar ao trabalho, trabalhar mais do que nunca e, eventualmente, me tornar um pilar da sociedade.

E a essa altura, com a sorte que eu gostaria de ter, descobri um patrão com a mesma mentalidade. Eu estava querendo trabalhar, e ele estava mais que querendo que eu trabalhasse. Pensei que estava aprendendo um ofício. Na realidade, havia substituído dois homens. Pensei que ele estava fazendo de mim um eletricista; de fato, estava ganhando, comigo, cinquenta dólares a mais por mês. Os dois homens que eu substituíra recebiam quarenta dólares por mês cada um, enquanto eu fazia o trabalho dos dois por trinta dólares.

Este patrão me fez trabalhar até a morte. Um homem pode adorar ostras, mas ostras demais vão deixá-lo enfastiado. E assim foi comigo. O excesso de trabalho me deixou doente. Eu não queria mais ver trabalho. Abandonei o emprego. Tornei-me um vagabundo, mendigando de porta em porta, perambulando pelos Estados Unidos e suando sangue em favelas e prisões.

Eu nascera na classe operária, e agora, aos dezoito anos, estava abaixo do ponto em que tinha começado. Caíra nos porões da sociedade, jogado no subterrâneo da miséria sobre o qual não é agradável nem digno falar: estava no fosso, no abismo, no esgoto humano, no matadouro, na capela mortuária da nossa civilização. Esta é a parte do edifício social que a sociedade prefere esquecer. A falta de espaço me leva aqui a ignorá-la, e devo dizer apenas que as coisas que vi lá me deram um medo terrível.

Estava apavorado até a alma. Vi a nu a complicada civilização em que vivia. A vida era uma questão de abrigo e de comida. Para conseguir abrigo e comida os homens vendem coisas. O comerciante vende seus sapatos, o político vende seu humanismo e o representante do povo, com exceções, é claro, vende sua credibilidade, enquanto quase todos vendem sua honra. As mulheres também, nas ruas ou na sagrada relação do casamento, estão prontas a vender seus corpos. Todas as coisas são mercadorias, todas as pessoas são compradas e vendidas. A primeira coisa que o trabalhador tem para vender é a força física. A honra do operariado não tem preço no mercado. O operariado tem músculos e somente músculos para vender.

Mas há uma diferença, uma diferença vital. Sapatos, credibilidade e honra têm como se renovar. Constituem estoques imperecíveis. Mas os músculos, estes não se renovam. Quando um comerciante vende seus sapatos, repõe o estoque. Mas não há como repor o estoque de energia do trabalhador. Quanto mais vende sua força, menos sobra para si. A força física é sua única mercadoria, e a cada dia seu estoque diminui. No fim, se não morreu antes, vendeu tudo e fechou as portas. Está arruinado fisicamente e nada lhe restou senão descer aos porões da sociedade e morrer na miséria.

Aprendi, ainda, que o cérebro também é uma mercadoria, ainda que diferente dos músculos. Um vendedor do cérebro está apenas no começo quando tem cinquenta ou sessenta anos, e seus produtos atingem preços mais altos do que nunca. Mas um operário está esgotado e alquebrado com quarenta e cinco ou cinquenta anos. Eu tinha estado nos porões da sociedade e não gostava do lugar para morar. Os canos e bueiros eram insalubres e o ar, ruim para respirar. Se não podia morar no andar de luxo da sociedade, podia, pelo menos, tentar a mansarda. Ela existia, a comida lá era escassa, mas pelo menos o ar era puro. Assim, resolvi não vender mais meus músculos e me tornar um vendedor de cérebro.

Começou então uma frenética perseguição ao conhecimento. Voltei para a Califórnia e mergulhei nos livros. Como me preparava para ser um mercador da inteligência, achei que devia me aprofundar em Sociologia. Assim, eu descobri, num certo tipo de livros, formulados cientificamente, os conceitos sociológicos simples que eu tinha tentado descobrir por mim mesmo. Outras grandes mentes, antes que eu tivesse nascido, tinham elaborado tudo que eu havia pensado e muitas coisas mais. Eu descobri que era um socialista.

Os socialistas eram revolucionários, porque lutavam para derrubar a sociedade do presente e tirar dela material para construir a sociedade do futuro. Eu, também, era um socialista e revolucionário. Liguei-me a grupos de trabalhadores e intelectuais revolucionários, e pela primeira vez entrei na vida intelectual. Aí descobri mentes aguçadas e cabeças brilhantes. Encontrei cérebros fortes e atentos, além de trabalhadores calejados; pregadores de mente muito aberta em seu cristianismo para pertencer a qualquer congregação de adoradores do dinheiro; professores torturados na roda da subserviência universitária à classe dominante e dispensados porque eram ágeis com o conhecimento que se esforçavam por aplicar às questões maiores da Humanidade.

Descobri, também, uma fé calorosa no ser humano, um idealismo apaixonante, a suavidade do despojamento, renúncia e martírio - todas as esplêndidas e comoventes qualidades do espírito. Naquele meio, a vida era honesta, nobre e intensa. Naquele meio, a vida se reabilitava, tornava-se maravilhosa. E eu estava alegre por estar vivo. Mantinha contato com grandes almas que punham o corpo e o espírito acima de dólares e centavos, e para quem o gemido fraco de crianças famintas das favelas vale mais do que toda a pompa e circunstância da expansão do comércio e do império mundial. Tudo à minha volta era nobreza de propósitos e heroísmo; meus dias e noites eram de sol e de estrelas brilhantes; tudo calor e frescor, como o Santo
Graal, o próprio Graal do Cristo, o ser humano caloroso, conformado e maltratado, mas pronto para ser resgatado e salvo no final, sempre ardente e resplandecente, diante de meus olhos.

E eu, pobre tolo, julgava ser aquilo apenas uma amostra das delícias de viver que eu deveria descobrir acima de mim na sociedade. Tinha perdido muitas ilusões desde os dias em que lera os romances da biblioteca Seaside, no rancho da Califórnia. E estava destinado a perder muitas das ilusões que me restavam.

Como mercador da inteligência, fui um sucesso. A sociedade abriu suas portas para mim. Entrei direto no andar de luxo; mas meu desencanto foi rápido. Sentei-me para jantar com os senhores da sociedade e com as esposas e mulheres dos donos da sociedade. As mulheres se vestiam muito bem, admito; mas para minha ingênua surpresa percebi que eram feitas do mesmo barro que todas as outras mulheres que eu tinha conhecido lá embaixo, nos porões. A esposa do coronel e Judy O’Grady eram irmãs sob suas peles e seus vestidos.

Não foi isto, porém, mas seu materialismo, o que mais me chocou. É verdade que estas mulheres lindas, ricamente vestidas tagarelavam sobre singelos ideais e pequenos moralismos; mas, ao contrário do teor de sua conversa mole, a tônica da vida que levavam era materialista. E como eram egoístas sentimentalmente. Contribuíam de todas as formas para pequenas caridades e se informavam sobre a realidade, mas, o tempo todo, os alimentos que comiam e as belas roupas que vestiam eram comprados com os lucros manchados pelo sangue do trabalho infantil, do trabalho exaustivo e mesmo da prostituição. Quando mencionei tais fatos, esperando em minha inocência que aquelas irmãs de Judy O’Grady arrancassem fora de uma vez suas sedas e joias tingidas de sangue, ficaram furiosas e excitadas, e leram para mim pregações sobre o desperdício, a bebida e a depravação inata que causavam toda a miséria nos porões da sociedade. Quando disse que não podia perceber bem qual era a falta de economia, a intemperança e a depravação de crianças quase famintas de seis anos que faziam trabalhar doze horas por noite numa fiação de algodão sulista, aquelas irmãs de Judy O’Grady atacaram minha vida pessoal e me chamaram de “agitador” — embora isto, na verdade, reforçasse meus argumentos.

Não me dei melhor com os senhores da sociedade. Esperava encontrar homens honestos, nobres e vivos cujos ideais fossem honestos, nobres e vivos. Andei com homens que estavam nos lugares mais altos - os pregadores, os políticos, os homens de negócios, professores e editores. Comi carne com eles, tomei vinho com eles, andei de automóvel com eles e estudei com eles. É verdade, encontrei muitos que eram honestos e nobres; mas, com raras exceções, não estavam vivos. Realmente acredito que poderia contar as exceções com os dedos das minhas mãos. Quando não estavam mortos pela podridão moral, atolados na vida suja, eram apenas a morte insepulta - como múmias bem preservadas, mas não vivas. Neste sentido, poderia especialmente citar professores que conheci, homens que vivem de acordo com o decadente ideal universitário, “a perseguição sem paixão da inteligência sem paixão”.

Conheci homens que invocavam o nome do Príncipe da Paz em seus discursos contra a guerra e que botaram nas mãos dos Pinkertons rifles que abateram grevistas em suas próprias fábricas. Encontrei homens incoerentes, indignados com a brutalidade de lutas de boxe e pugilismo, e que, ao mesmo tempo, participavam da adulteração de alimentos que a cada ano matam mais bebês do que qualquer Herodes de mãos rubras jamais havia matado.

Em hotéis, clubes, casas e vagões de luxo, em cadeiras de navios a vapor, conversei com capitães de indústria e me espantou como eram pouco viajados nos domínios do intelecto. Por outro lado, descobri que sua inteligência para negócios era excepcionalmente desenvolvida. Descobri também que sua moralidade, quando há negócios envolvidos, nada vale.

O delicado, destacado e aristocrático cavalheiro era um testa de ferro de corporações que secretamente roubavam viúvas e órfãos. Este cavalheiro, que colecionava edições de luxo e era patrocinador especial da literatura, pagou chantagem a um chefão político de queixo duro e sobrancelhas escuras da máquina municipal. Este editor, que publicou propaganda de medicamentos licenciados e náo ousou divulgar a verdade em seu jornal sobre os mesmos medicamentos, com medo de perder o anunciante, me chamou de canalha demagogo porque lhe disse que sua economia política era antiquada e sua biologia, contemporânea de Plínio.
Este senador fora a ferramenta e escravo, o pequeno fantoche de uma máquina indecente e ignorante de um chefáo político; assim eram o governador e seu juiz no Tribunal de Justiça; e todos os três tinham passes para viajar de graça na estrada de ferro. Este homem, falando seriamente sobre as belezas do idealismo e a bondade de Deus, acabara de trair seus camaradas numa questão de negócios. Aquele outro, pilar da igreja e grande contribuinte de missões no exterior, obrigava as garotas de suas lojas a trabalhar dez horas por dia por um salário de fome e, portanto, encorajava diretamente a prostituição. Este homem, que dá dinheiro à universidade, comete perjúrio em tribunais por causa de dólares e centavos. E o grande magnata da estrada de ferro quebrou sua palavra de cavalheiro e cristão quando admitiu abatimentos secretos para um de dois capitães de indústria empenhados numa luta de morte.

Era a mesma coisa em todo lugar, crime e traição, traição e crime — homens que estavam vivos não eram honestos nem nobres; homens que eram honestos e nobres não estavam vivos. E havia uma grande massa sem esperanças, nem nobre nem viva, mas simplesmente honesta. Esta não podia errar, positiva ou deliberadamente; mas errava de maneira passiva e ignorante ao concordar com a imoralidade generalizada e com os lucros que ela produz. Se fosse nobre e viva, não seria ignorante, e teria se recusado a dividir os lucros do crime e da traição.

Percebi que não gostava de viver no andar de luxo da sociedade. Intelectualmente era aborrecido. Moralmente e espiritualmente, eu me sentia enojado. Lembrava-me de meus intelectuais e idealistas, meus pregadores sem hábito, professores desempregados e trabalhadores honestos com consciência de classe. Lembrava meus dias e noites de sol e estrelas brilhando, quando a vida era uma maravilha doce e selvagem, um paraíso espiritual de aventuras não-egoístas e um romance ético. E diante de mim, sempre resplandecente e excitante, vislumbrava o Sagrado.

Então, voltei à classe operária, na qual havia nascido e à qual pertencia. Não me preocupava mais em subir. O imponente edifício da sociedade não reserva delícias para mim acima da minha cabeça. São os alicerces do edifício que me interessam. Lá, contente de trabalhar, de ferramenta na mão, ombro a ombro com intelectuais, idealistas e operários com consciência de classe, reunindo uma força sólida agora para fazer mais uma vez o edifício inteiro balançar. Algum dia, quando tivermos mais mãos e alavancas para trabalhar, vamos derrubá-lo, com toda sua vida podre e sua morte insepulta, seu egoísmo monstruoso e seu materialismo estúpido. Então vamos limpar os porões e construir uma nova moradia para a espécie humana, onde não haverá andar de luxo, na qual todos os quartos serão claros e arejados, e onde o ar para respirar será limpo, nobre e vivo.

Esta é a minha perspectiva. Vejo à frente um tempo em que o homem deverá caminhar para alguma coisa mais valiosa e mais elevada que seu estômago, quando haverá maiores estímulos para levar os homens à ação do que o incentivo de hoje, que é o incentivo do estômago. Conservo minha crença na nobreza e na excelência da Humanidade. Acredito que a doçura e o despojamento espiritual vão superar a gula grosseira dos dias de hoje. E, no fim de tudo, minha fé está na classe trabalhadora. Como diz um francês: “A escada do tempo está sempre ecoando com um tamanco subindo e uma bota engraxada descendo”.  


segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Arte e anarquia

A Biblioteca Terra Livre, de São Paulo, publicou no seu canal de youtube o documentário Arte e Anarquia, de 1989, produzido pela Fundação de Estudos Libertários Anselmo Lorenzo, da Espanha. O documentário é dirigido por Emilio Garcia Weidemann. O filme apresenta uma narrativa sobre alguns grupos de arte de vanguarda e suas relações com o anarquismo. Para assistir com legenda em português clique no ícone “Ativar Legendas” na barrar inferior do vídeo.


sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

O grande jogo, de Alexander Berkman


A peça “O grande jogo”, de Alexander Berkman*, traduzida por Natalia Montebello e publicada na Revista Verve, número 14, em 2008.


Berkman e Emma Goldman em 1917


O grande jogo, de Alexander Berkman

Personagens:
Eu (industriais e capitalistas)
Você (operários)
Negra Figura (Lei)

(Abrem-se as cortinas)

Eu ― Desçam ao interior da terra. Tragam a luz o
carvão e o ouro, o ferro, a prata e as pedras preciosas.

Você ― Considere feito.

Eu ― Construam fabricas e maravilhosas ferramentas
e modelem o mundo em jubilo e beleza.

Você ― Considere feito.

Eu ― Muito bem, meus homens. Maravilhoso! Quanta
abundancia! Quantas riquezas! Todas minhas.
Algumas vozes ― Suas? Por que? Nos fizemos tudo!

(Comoção no palco)

Mais vozes (enfurecidas) ― São nossas! Nos as fizemos.

Eu ― Silencio! Eu não mandei que o fizessem?

Vozes ― Mas e nosso. Nos o fizemos.

Eu ― Chamemos a Lei!

(Entra a Negra Figura, vestida de preto, levando uma
Bíblia em uma mão, a espada desembainhada na outra.
As duas mãos com luvas)

(Um silêncio solene quando fala a Lei)

Negra Figura ― E seu. Assim está decretado. A integridade
de nossas justas e livres instituições deve ser
mantida.

(Todos reverentemente ajoelham-se diante da Negra
Figura)

(Sai a Negra Figura)

Eu (orgulhosamente jubiloso) ― E meu, por Lei.

Você ― Nos somos pobres. Nossas esposas precisam
de comida, nossas crianças tem fome.

Eu ― Eu darei a vocês as coisas de que precisam.

Você ― Nos de! Nos de!

Eu ― Em troca de mais trabalho. Venderei as coisas
que vocês fazem e lhes darei um salario por isso.

Você ― Salários! Bons salários?

Eu ― Sim, um salario justo.

Você ― Tome, tome! Um salario justo!

Eu ― Entregarei a vocês comida e roupa em troca de
seus salários.

Você ― Um amo carinhoso! Tome, pegue nossos salários!
(Eu pega os salários e entrega escassas rações de
comida)
(Você, depois de ter devorado a comida, em pé com as
mãos vazias, com semblante satisfeito)

Eu (com profunda auto-satisfacao) ― A indústria e a
economia são a coluna vertebral de nossa grande prosperidade
nacional.

Você ― Mas nos não obtivemos nada.

Eu ― Elejam-me para o ministério e aprovarei uma
lei para abrir cozinhas populares para aqueles dentre
vocês que merecerem minha generosidade.

Você ― Viva! Viva! Nosso candidato!

(Um desfile com tochas)

(Fecham-se lentamente as cortinas)

Notas:
1 The Blast, San Francisco, Estados Unidos, 29 de janeiro de 1916.

* Imigrante russo que se tornou proeminente anarquista nos EUA. Cometeu um atentado contra um industrial durante uma greve operária e passou 14 anos na prisão. Em 1919, devido a contundentes manifestações contra a guerra,foi deportado para a Rússia junto com vários anarquistas, inclusive Emma Goldman, sua companheira na vida amorosa e política. Depois de dois anos,deixaram o país e lideraram a crítica libertária aos rumos autoritários da Revolução Russa e das ações do Partido Comunista. Gravemente doente, Berkman morreu aos 66 anos, na França, em 1936.