sábado, 28 de março de 2015

É greve: as greves por imagens.

As/os trabalhadores/as em educação na rede estadual de ensino estão em greve. Pelo blog e facebook da entidade é possível acompanhar a luta da categoria. 

Em homenagem a luta das/os companheiros/as da educação, faço a postagem com imagens das classe trabalhadora em outros tempos e lugares. 

O ano de 1917 foi marcado por uma grande greve geral que mobilizou várias cidades brasileiras, inclusive trabalhadores em Joinville /SC paralisaram para reivindicar melhores condições de vida. A mobilização foi marcada por forte influência do anarquismo e do sindicalismo revolucionário. O dia 09 de julho foi marcado pelo assassinato pela polícia do companheiro sapateiro e anarquista José Martinez. A fotografia apresenta a grande manifestação dos/as trabalhadores/as pelas ruas de São Paulo.



Jules Grandjouan (França, 1875-1968) foi um artista visual ligado ao sindicalismo revolucionário no seu país de origem. Muito do seu trabalho era representativo do contexto que atuava. Ativo colaborador de diferentes revistas da sua época, como A Guerra Social, A Batalha Sindical e outras.


A entidade sindical IWW (EUA, 1905) não pode ficar de fora. Afinal, Trabalhadores Industriais do Mundo (Tradução tosca de “Industrial Workers of the World”) marcou o imaginário sindicalista com o seu gato negro. Segundo Larry Portis, “Esse felino misterioso, desde aurora dos tempos, inspirou o temor, seja por sua identificação maléfica com a feitiçaria (...). Os I.W.W. escolheram o gato negro para exibir sua vontade, sua determinação e sua rebelião: nas lutas contra os poderes estabelecidos, é preciso mostrar suas garras para ser um movimento respeitado.”



Eric Drooker (EUA,  1958) é um artista contemporâneo conhecido nos círculos de esquerda. Afinal, é comum encontrar suas ilustrações reproduzidas em artigos sobre censura X liberdade de expressão, mulheres e direito à cidade. Drooker é o cara que cuidou da ilustração do poema Uivo, do contestador beat Allen Ginsberg. No contexto do movimento OCUPPY, Drooker criou um cartaz que a IWW se prontificou em disponibilizar para baixar em vários idiomas (aqui).


Comentários sobre "A Internacional", de Benoît Malon

“Queremos nossa libertação integral e só contamos conosco para obtê-la; eis por que, em vez de seguir bajuladores do povo, sempre impotentes e amiúde traidores tão logo o sufrágio levou-os ao poder, só vemos política verdadeira na propaganda das ideias de solidariedade entre todos os trabalhadores e da necessidade de agrupar federativamente todas as forças proletárias, impotante enquanto permanecerem isoladas.”  
Benoît Malon (na página 52)

O sindicalismo governista e institucionalizado deixou no esquecimento as memórias e as histórias da classe trabalhadora. As oposições sindicais ao sindicalismo dominante pouco tem adesão das bases e do acúmulo das conquistas, derrotas e debates da história de luta. Estas considerações surgiram com a leitura do livro “A Internacional: sua história e seus princípios”, do escritor e militante internacionalista Benoît Malon (1841-1893).

A obra memorialística era inédita nos círculos sindicais e libertários brasileiros, mesmo datando originalmente da segunda metade do século XIX. A apresentação do livro é escrita pelo historiador Alexandre Samis, que traça a trajetória do francês Malon, que dedicou sua vida simples e operária a luta, como muitos filiados a Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT, Iª Internacional), fundada em 1864.

O autor está não busca escrever a história definitiva da Associação Internacional dos Trabalhadores. O autor apresenta pluralidade de linhas políticas na AIT. Outro ponto é a rápida apresentação das características regionais que cada secção filiada e as linhas políticas influentes em determinadas regiões. Diversidade que produziam elementos para distintas interpretações da realidade, táticas e ações em defesa da classe operária. Malon, não se prepõe a debater a cisão e o racha entre o grupo formado por centralizadores e os coletivistas, o primeiro alimentaram a linha autoritária, o segundo a tendência autonomista e libertária.

No contexto atual com as entidades sindicais viciadas. Muitas não representam a cultura política formadas na AIT. O que  torna-se fundamental pensar e construir um novo sindicalismo pautado na perspectiva classista, combativa e de base, onde a defesa e a luta da classe operária caibam o máximo de irmãos e irmãs dominadas para realização de um mundo baseado na justiça social, liberdade e igualdade.

A Internacional: sua história e seus princípios. Benoît Malon. Editora Imaginário e Instituto de Estudos Libertários. São Paulo, setembro de 2014.


domingo, 15 de março de 2015

O que foi escrito sobre o 15 de março?

No calor da demonstração contra Dilma finalizada, organizei análises escritas e publicadas por diferentes autores. O material foi retirado do facebook e não tem por objetivo finalizar o debate, mas oferecer diferentes olhares.


Quando você sai à rua com apoio da Globo (dos três multibilionários mais ricos do país), da PM, do poder econômico, você obviamente não está se colocando contra os poderosos, não há rebeldia nenhuma nisso, mas puro conformismo. O pior dos conformismos: aquele que te faz servir a eles até no seu dia de folga.



Observaçōes sobre o ato na Paulista. 

i) é muito maior que o de sexta, que mobilizou a base social do governo; 

ii) há um perturbador corte de classe: nāo vi um único negro, mas a classe média profissional está toda aqui; 

iii) desfile de tendências extremistas: olavistas, skinheads e neonazis discursando à vontade; 

iv) grupos muito diferentes, liberais, conservadores e oposicionistas pragmáticos disputam a liderança do antipetismo difuso da classe média; 

v) nāo há uma pauta clara, nem mesmo o sentimento anticorrupçāo -- apenas o antipetismo e o anticomunismo; 

vi) quem veio, vai gostar da adrenalina e do sentimento de empoderamento das ruas e vai voltar.


O fascismo ainda é, felizmente, o setor mais fraco da oposição anti-Dilma. Existem os pró-desgaste da Dilma para uma vitória eleitoral (claramente psdebista), os pró-impeachment (ainda jogo dentro das instituições) e os pró-intervenção militar. Os dois primeiros são liberais, o último, fascista, que teve que aderir, contra a própria vontade, à manifestação pró-impeachment pelo fracasso de suas manifestações pro-intervenção militar. Não confundamos a coisa. São três estratégias distintas da direita oposicionista que estão disputando a insatisfação generalizada da classe média. É claro que o fascismo pode ganhar força. Mas, não há golpe em andamento. Ainda não.
Não é simplesmente uma luta de ricos contra pobres. A defesa que a população trabalhadora e pobre fazia dos governos do PT está em processo de decadência elevado. A diminuição do crescimento, iniciada em 2011 começou, timidamente, a ruir a satisfação daqueles que, pelo menos durante o segundo mandato do governo Lula, estavam satisfeitos com sua inserção no consumo.
O endividamento da população que havia sido beneficiária da política de créditos é evidente. Agora, com as medidas do governo atual (Medidas Provisórias 663 e 664 – que retira direitos trabalhistas, corte de verbas, diminuição da política de créditos, aumento da taxa de juros) para a saída da crise, a situação dos trabalhadores e das população mais pobres do país tende a piorar significativamente.
O que tem me chegado aos ouvidos é que o dia 15 de março estava sendo conversado nos ônibus da cidade, entre a população pobre. Todo mundo conhece pais, amigos, familiares trabalhadores que estão reproduzindo o discurso da direita oposicionista. Lembremos do poder das igrejas evangélicas (em que uma boa parte delas já elegeu o “comunismo” no poder como a própria encarnação do diabo) nos bairros de periferia. Pode ser que estes setores de trabalhadores não participem hoje das ruas, pela insatisfação não estar ainda generalizada e também porque nunca se sentiram muito bem entre os coxinhas da classe média que estão efetivamente dirigindo e comandando o ato.
Mas, a luta contra o fascismo se faz não simplesmente com discursos, mas com fatos. Medidas que prejudiquem a classe trabalhara vão lança-la diretamente nas mãos da direita oposicionista, caso não haja organizações e movimentos da própria classe trabalhadora que canalizem esta insatisfação para a luta contra a carestia de vida.
Então, parem, por favor, de culpar a turma do NEM 13 Nem 15. Assumir a própria culpa e começar a dar motivos para a população não aderir ao golpismo é algo básico e muito pouco provável.

Por Bruno Klein:

Para mim, a questão mais importante não é se vai haver impeachment. Se isso acontecesse, essa raiva social poderia encontrar satisfação, mesmo que ilusória. Sem o impeachment, para onde vai essa raiva?

Receio que seja recalcada na forma de um comportamento cada vez mais violento e ressentido no cotidiano. A frustração do desejo de transgredir a legalidade e mudar o céu da política a todo custo pode fornecer uma aparência subjetiva de legitimidade para todo tipo de atrocidade no chão da vida social. O indivíduo ressentido pode se dizer: "tentei do jeito certo. Não deu. Agora vai do meu jeito." A esquerda social talvez deva se preparar para uma mudança na gramática das lutas. Se a burguesia e suas franjas médias se derem conta de que a disputa política está viciada por um mar de ignorância -- que ela atribui à massa de estropiados na base da sociedade --, ela pode não arquitetar um programa político próprio, ou mesmo um golpe. Esta última hipótese parece uma veleidade. Ela pode, na verdade, despejar todo ódio e ressentimento acumulados nessa cruzada fracassada sobre seus subalternos. Isso reabriria a atávica caixa preta do sadismo social das classes proprietárias brasileiras. Esse é um contexto que pode alterar o tipo da luta que se dá na sociedade. Talvez se deva esperar toda forma de violação, assédio, demonstração de força, humilhação, etc., nos locais de trabalho e fora deles. Uma classe dominante cuja ideologia já não reivindicaria o menor verniz de civilidade, fornecido pelos apanágios da política, do direito e da razão.

Extrapolando um pouco, a situação é curiosa. Com essa frustração, o consórcio da classe dominante faz a experiência da falsidade da política. Mas ela elabora essa experiência de uma maneira peculiar. Ela reativa a sua ilusão retrospectiva da dominação pura e simples como a "verdadeira origem" de si e a única fonte da ordem. Com isso, a tradição do senhoriato colonial é trazida ao presente, como numa epifania religiosa que revela a verdade há muito esquecida. Mas também essa epifania é uma ilusão, já que nela a classe dominante não pode usurpar a função de sujeito do capital, impotência que retroalimenta a ilusão do originário com mais e mais frustração. Quanto menos sujeito ela pode ser, mais violenta se torna a classe dominante brasileira.

Se essa hipótese tem um grão de verdade, a esquerda, na base da sociedade, também precisa fazer a experiência da falsidade da política. No entanto, ela precisa fazer a sua própria elaboração dessa experiência. Diferentemente da classe dominante e sua claque, a esquerda brasileira não terá nenhum fantasma atávico para orientá-la. Ela não tem nenhuma capacidade de reavivar seu passado glorioso, já que este para ela é, em grande medida, um trem desgovernado de violência. A elaboração daquela experiência que lhe cabe passa pela perda de ilusões que a assombram no presente. Essa situação abre uma brecha histórica que pode articular presente e futuro no aqui e no agora. Essa projeção para fora da máquina de massacrar gente que é a história social brasileira difere da projeção retrospectiva que anima essa direita que vemos.


Na minha opinião, a elaboração que se disponibiliza à experiência da esquerda e dos de baixo pode não assumir uma forma imediatamente antipolítica, no sentido emancipatório do termo. Mas a coisa pode caminhar nesse sentido. As enrascadas do governo petista, que são a aurora daquela ilusão política, como que pressionam esse trabalho de elaboração coletivo tanto quanto o desejo regressivo das oposições de direita aos governos petistas. Nesse momento crepuscular das ilusões de todos os lados, talvez a esperança esteja em que a raiva social dos dominadores encontre um adversário à altura.

sexta-feira, 13 de março de 2015

Uma carta sobre o dia 15/03

Na quarta-feira, o jornal “A notícia” publicou uma reportagem sobre a manifestação do dia 15 de março. Na ocasião, uma fotografia de um ato chamado pelo MPL foi utilizada. No meu ponto de vista foi um erro o uso da fotografia, assim como de outros/as leitores/as. Depois das críticas a fotografia foi retirada da publicação. 

Eu realizei contatos telefônicos com a editora Marina Andrade, da redação do AN, que abriu o espaço para publicação de um artigo, mas depois o convite foi para publicação em formato em carta. A carta foi publicada no jornal impresso de hoje, 13/03, e no site do jornal (leia aqui).

Não vou para a manifestação do dia 15 de março

No dia 11/3/2015, o site do “A Notícia” publicou reportagem sobre a manifestação do dia 15 de março, que é apoiada pela Acij, pelos partidos políticos derrotados na eleição de 2014 e por setores conservadores como defensores da volta dos militares ao poder. A reportagem trazia uma fotografia da manifestação do dia 26/6/2013, organizada pelo Movimento Passe Livre (MPL) e que contava com a chamada “Vamos mudar começando pela tarifa zero: construir um transporte público, gratuito e de qualidade”. Dois eventos distintos, tanto na pauta quanto nas suas origens.

Nas redes sociais, diferentes vozes questionaram o uso da fotografia. Afinal, golpe, intervenção ou luta contra a corrupção são temas distintos de um transporte coletivo realmente público e para todos e todas. Isso não significa que as vozes que cito são favoráveis a Dilma, Colombo, Tebaldi, Darci, Carlito ou Udo. Pelo contrário, são vozes de homens e mulheres que atuam cotidianamente para além das redes sociais. Dedicam as suas vidas para construir outro mundo, onde a liberdade e igualdade são o norte para realização de uma cidade baseada na justiça e nos direitos humanos.

A manifestação agendada para o domingo não pretende avançar rumo ao mundo que almejamos, pretende trocar o governo A pelo B. Também não compreende que a corrupção está no cerne da existência do Estado e do capitalismo. Afinal, como já escreveram vários anarquistas, o capitalismo e o Estado são irmãos que nasceram no mesmo contexto e com os mesmos objetivos.

Em Joinville, temos exemplos claros de que a manifestação do dia 15/3 não levanta bandeiras de luta como os 24 processos movimentados pelas empresas de transporte coletivo contra o MPL e o processo administrativo que o governador Colombo move contra militante sindical da educação; assim como a crescente criminalização da luta por justiça social e a retirada de direitos dos trabalhadores, inclusive pelo governo federal. Por isso, afirmo que nossa luta é organizada diariamente nos locais de trabalho, estudo, moradia e lazer com os/as de baixo e à esquerda.

Maikon Jean Duarte, professor de história e membro do Centro dos Direitos Humanos Maria da Graça Bráz


sábado, 7 de março de 2015

Dossiê: 8 de março.

O dia 8 de março é uma data marcada pela luta dos direitos das mulheres. Considerando as datas históricas são importantes para refletir sobre vida em sociedade marcada por opressões, tomei a iniciativa de selecionar material sobre as histórias e as lutas das mulheres contra o Estado, o capitalismo e o patriarcado. O material reunido foi selecionado nas páginas de vários/as companheiras/as de luta e estudo. O dossiê não tem objetivo esgotar o assunto ou dar a linha, mas é claro que a seleção parte da minha visão e formação social, cultural e política. 

Em 2015, as redes sociais e os meios de comunicação independentes divulgaram o papel das  mulheres na luta do povo curdo contra o ISIS (Estado Islâmico), que também apresenta uma nova maneira de pensar e fazer a viver em sociedade. O primeiro artigo é “A revolução dentro da revolução e o protagonismo feminino no Curdistão (leia aqui) e o segundo artigo aborda o 8 de março das mulheres curdas (leia aqui).

Deixo uma menção à companheira anarquista, professora e assassinada pela ditadura no Uruguai Elena Quinteros. É a música de Daniel Viglietti dedicada Elena Quinteros:



Em Santa Catarina, o governador Raimundo Colombo realiza uma perseguição a uma companheira sindicalista ligada ao SINTE. As mulheres em luta insistem gritar contras as opressões. Deixo à nota pública de solidariedade a companheira sindicalista Viviane. (Leia aqui).

As mulheres que buscam uma organização para atuar no campo feminista em Joinville/SC, eu sugiro fazer contato com o Coletivo Feminista Mulher na Madrugada. Segundo consta, elas estão retomando o trabalho no corrente ano. (Visite aqui). 

O professor de história Anderson Corrêa publicou um resumo sobre a história do 8 de março. O texto é possível ler na página do facebook do autor. (Leia aqui).

Em 2007, tomei conhecimento da personagem Tina Modotti. Na ocasião da leitura da história em quadrinhos escrita por Ángel de la Calle, publiquei uma breve resenha do livro. (Leia aqui). 

Em outubro de 2014, o grupo irlandês WSI (Workers Solidarity Movement) publicou o texto Anarquismo, Opressões e Exploração com objetivo da promoção do debate no meio do movimento anarquista. O companheiro JG traduziu e publicou no seu blog Muito Além do Céu. (Leia aqui). 

Não posso deixar de fechar a postagem sem mencionar a Dona Irma, minha companheira de atuação no Centro dos Direitos Humanos Maria da Graça Bráz.O perfil foi escrito pela jornalista Emanoele Girardi. (Leia aqui).  

terça-feira, 3 de março de 2015

Uma petição pelo direito à memória.

Reproduzo o texto completo realizado por um grupo de historiadores/as formados no Departamento de História da UNIVILLE. Após a leitura, caso tenha interesse, assine a petição que está disponível aqui. 

A fotografia é o registro do encontro em Joinville do então prefeito Nilson Bender (alto e de bigode ao centro) com o ditador Costa e Silva (de óculos e com os braços para cruzados nas costas). A fotografia é parte do acervo utilizado no documentário Ditadura Reservada, do jornalista Fabrício Porto.




A UNIVILLE, Universidade da Região de Joinville, é uma entidade educacional notória no processo da formação social de Joinville e região. Basta olhar para o quanto os bancos universitários incentivaram o pensar, o fazer, o sentir, o manter e o transformar a cidade. É claro que a sua história não é um conto de fada. Os/as egressos/as sabem o quanto foi complexo organizar o movimento estudantil e sindical no campus, como os/as estudantes foram punidos com aumentos unilaterais das mensalidades e a falta de repasse financeira da Prefeitura Municipal de Joinville. 

O Departamento de História, localizado no segundo andar do Bloco A, promoveu grandes discussões e mobilizações. O grande legado é a nova interpretação sobre a história da cidade, rompendo com mitos e lendas criadas por cronistas, que ironicamente frequentaram os bancos do campus. Hoje, parte da historiografia produzida no Departamento de História é apropriada por movimentos sociais, organizações políticas e por educadores/as nas salas de aula do ensino fundamental e médio. 

Entre os conteúdos produzidos, podemos mencionar os trabalhos relacionados a história de Joinville entre os anos de 1960 e 1970 – anos que o Brasil vivenciava uma tremenda ditadura civil-militar implantada pelo golpe de 1964 –, assim como as entrevistas orais arquivadas no Laboratório de História Oral da UNIVILLE. Graças aos trabalhos de egressos do Departamento de História, é de conhecimento o quanto Joinville, assim como sua elite econômica, política e intelectual participou, arquitetou e foi beneficiada pela ditadura que se arrastou violentamente até 1985. 

Por conta dessas contribuições que causa estranheza a notícia que será concedida in memorian o título de Doutor Honoris Causa ao ex-prefeito e diretor da Fundição Tupy Nilson Bender. A biografia de Nilson Bender está vinculada aos interesses econômicos e políticos da Ditadura. Na Fundição Tupy exerceu funções de diretor da empresa privada, justamente no momento em que se arquitetava o golpe civil-militar de 1964, inclusive fazendo dos espaços da empresa para promover o pensamento ideológico golpista ao governo eleito pelo voto de João Goulart. Depois, em 1966, se tornou prefeito de Joinville, quando recebeu ditadores e realizou a defesa da política do Estado ditatorial brasileiro. Segundo pesquisas, a Fundição Tupy foi uma grande beneficiada economicamente com a ditadura. No processo de abertura para democracia representativa, o Nilson Bender não poupou o verbo para fazer a defesa da ditadura, inclusive negando a existência de presos políticos e torturados nos 21 anos de Ditadura. 

Com o encerramento dos trabalhos da Comissão Nacional da Verdade, Comissão Estadual da Verdade Paulo Stuart Wrigt e Comissão Municipal da Verdade de Joinville, é documentado o quanto a Fundição Tupy e o governo Bender perseguiu e receberam colaborações. Nos relatórios da Comissão são unânimes para dizer não a nomeação de prédios, ruas e praças públicas em homenagens aos nomes referentes a Ditadura Civil-Militar. 

Considerando que a democracia é fundamental para o exercício da educação, pesquisa e extensão, práticas que a UNIVILLE é uma realizadora em Joinville e Região, é questionável a notícia de conceder o título Honoris Causa ao rosto político civil da repressão, o senhor Nilson Bender. Por isso, solicitamos o cancelamento da homenagem ao ex-prefeito Nilson Bender. Sendo a homenagem realizada, cabe a instituição saber que figura na contramão dos debates contemporâneos, sendo que a Univille, por meio de seus gestores, estará ao lado dos homens e mulheres que colaboram para escamotear os crimes contra a humanidade cometidos nos anos de chumbo.