quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

54 anos da estreia da peça Eles não usam Black-Tie

Eles não Usam Black-Tie , 1958
Acervo Idart/Centro Cultural São Paulo
Registro fotográfico Hejo (Fonte)
Na semana passada comecei a ler o livro "A História vai ao cinema", organizado por Mariza de Carvalho Soares e Jorge Ferreira. O livro é uma reunião de artigos de historiadores e historiadoras conceituados-as no mundo acadêmico. Ao contrário do que se espera, os artigos não são acadêmicos, mas buscam dialogar com o público de cinema. Os filmes escolhidos são brasileiros, produzidos entre os anos de 1976 a 1998. Entre os filmes estão "Eles não usam Black-Tie", de Leon Hirszman, de 1981. O historiador Carlos Fico comenta o filme fazendo uma ponte com a produção teatral, o texto foi escrito par ao teatro. Em razão do dia de hoje - 22 de fevereiro - completa 54 anos da estreia da peça Eles não usam Black Tie, no Teatro de Arena, na cidade de São Paulo. Por isso, deixo duas considerações de Carlos Fico sobre a peça.

O contexto brasileiro no final da década de 1950:

“No Final dos anos de 1950 o Brasil era governado pelo Juscelino Kubitscheck (1956-1961), presidente da República que expressou a vitória do modelo industrializante apoiado pelo capital estrangeiro e que propunha mudanças estruturais profundas e aceleradas, baseadas na criação de um setor industrial dinâmico. Porém, as circunstâncias históricas que mais diretamente parecem presentes na peça são anteriores ao governo JK. Desde 1930 uma questão preocupava todos: a irrupção na cena política, das massas populares urbanas. Aqui não cabe discutir as teses sobre  a institucionalização das relações entre Estado, empresariado e operários, o corporativismo posterior a 1937, ou o populismo de Getúlio Vargas, que mesclava o reconhecimento de direitos dos trabalhadores com graus diversos de manipulação política. O fato é que “povo” estava na ordem do dia. Tanto quanto as discussões sobre o que era popular e o que era nacional. Os intelectuais do período buscavam explicar o Brasil, redescobri-lo, conforme detectou Carlos Guilherme Mota, e transitaram de uma consciência amena do atraso para a trágica percepção do subdesenvolvimento, conforme anotou Antonio Cândido. Portanto, inserir “povo” na cena cultural correspondia aos anseios de modernização e desenvolvimento do Brasil, na medida em que, assim, praticar-se-ia uma arte genuinamente nacionais.” Página 127-8

A importância da peça "Eles não usam Black-Tie":

“Mas a peça tem uma grande importância na história do teatro brasileiro. Em primeiro lugar, sublinhou a existência de uma dramaturgia de cunho social, que punha em cena a classe operária, definindo parâmetros para um novo tipo de teatro urbano no Brasil. Não se pense que a vida social das cidades estivesse ausente dos palcos nacionais, mas agora falava-se da cidade tipicamente capitalista, industrial, e o operário, sujeito histórico novo no cenário político brasileiro. Ademais, o panorama teatral brasileiro quando da estréia de Black Tie era dominado pelo Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), companhia que alternava montagens comerciais e obras do repertório clássico, dando preferência a autores estrangeiros. Segundo Sábato Magaldi, “no começo a Arena era um TBC pobre, sem muita diferença na escolha das peças”. Foi com a bem-sucedida peça de Guarnieri que o Teatro de Arena encontrou o seu rumo, criando, inclusive, um Seminário de Dramaturgia que, se não chegou a gerar textos definitivos, colaborou bastante para o surgimento de um “jeito brasileiro” de escrever teatro, de conceber peças que falassem diretamente com o público.” Página 126





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