Lendo
o artigo “Dever de honra”, do anarquista Errico Malatesta (1853 - 1932), publicado no jornal
L`Agitazione, em 22 de setembro de 1901, penso que é possível usar como base para refletir sobre o voto crítico
realizado por vários companheiros e companheiras da esquerda das diferentes tendências ao PT e também para pensar sobre o voto do senador do PSOL para Luis Henrique da Silveira (do PMDB) na
função de presidente do Senado.
É necessário pensar a candidatura do senador Luis Henrique da Silveira por atuarmos em Joinville, cidade que é terreno político desde anos de 1970. Como a esquerda radical, anti-parlamentar, movimentos sociais e entidades de classes entendam está dinâmica da política institucional que enfrentamos no cotidiano da luta popular e classista nas ruas, nas praças, nos locais de trabalho, moradia e estudo.
Segue o artigo para estimular a reflexão.
DEVER
DE HONRA
Acabaram as eleições.
Nós- quer dizer, todos os
companheiros – fizemos tudo o que podíamos fazer para explicar ao povo esta
trapaça que é a luta eleitoral, assim como seus danos. E trabalhamos bem. Mas
agora nos compete um outro dever, e mais importante: mostrar – pelos fatos,
obtendo resultados – que a nossa tática é melhor do que a dos parlamentaristas;
e que não somos simplesmente uma força negativa, mas queremos ser e somos uma
força ativa, operante, eficaz, na luta pela emancipação do proletariado.
Combatemos os socialistas
parlamentaristas e temos razão porque, em seu programa e em sua tática, há o
germe de uma nova opressão. Se algum dia eles triunfassem, o princípio de governo
que conservam e reforçam destruiria o princípio de igualdade social e abriria
uma nova era de luta de classes. Mas, para ter o direito de combate-los,
devemos fazer melhor do que eles.
Ter razão em teoria, sonhar
com ideias superiores, criticar os outros, prever as consequências de programas
incompletos e contraditórios, isto não basta. Mais ainda, se tudo se limita à
teoria e à crítica e não serve de ponto de partida a uma atividade que procure
e que crie as condições para pôr em obra um programa melhor, nossa ação corre o
risco, ao contrário, de ser nociva na prática, entravando a ação dos outros, e
isto para a grande vantagem de nossos inimigos comuns.
Impedir, por nossa
propaganda, que o povo envie ao Parlamento socialistas e republicanos (levando
em conta que aqueles que são os mais acessíveis à nossa propaganda são
precisamente os que, sem nós, votariam em candidatos antimonarquistas) é muito
bom, se soubermos fazer, daqueles que arrancamos do fetichismo da urna,
combatentes conscientes e ativos da emancipação verdadeira e total.
Caso contrário, teríamos
servido, serviríamos aos interesses da monarquia e dos conservadores.
Pensemos todos nisto.
Trata-se do interesse de nossa causa, de nossa hora, como homens e como
partido.
A propaganda isolada,
ocasional, que frequentemente é feita com o objetivo de acalmar sua
consciência, ou para dar simplesmente livre curso à sua paixão pela discussão,
esta propaganda não serve para nada ou quase nada. Ela é esquecida, perde-se
antes que seus efeitos possam somar-se uns aos outros e tornar-se fecundos,
tendo em vista as condições de inconsciência e de miséria das massas e, por
outro lado, todas as forças que nos são contrárias. O terreno é muito ingrato
para que sementes lançadas ao acaso possam germinar e produzir raízes.
É necessário um trabalho
contínuo, paciente, coordenado, adaptado aos diferentes meios e às diferentes
circunstâncias. É preciso que cada um de nós possa contar com a cooperação de
todos os outros, e que em todos os lugares onde um grão tiver sido lançado, não
falte o trabalho assíduo do jardineiro para cuidar dele e protege-lo até que
ele tenha se tornando uma planta capaz de viver por si mesma e, por sua vez,
espalhe novos grãos fecundos.
Há, na Itália, milhões de
proletários que ainda são instrumentos cegos nas mãos dos padres; há milhões
que odeiam o patrão com um ódio intenso, mas que estão persuadidos de que não
pode viver sem patrões e não sabem imaginar nem desejar outra emancipação senão
a de tornar-se patrões, por sua vez, e explorar seus companheiros de miséria.
Há regiões imensas – exatamente
a maior parte da superfície da Itália – onde nossa palavra jamais chegou, ou
não deixou marcas sensíveis caso tenha lá chegado.
Existem organizações
operárias, poucas, é verdade, às quais somos estranhos.
Desencadeiam-se greves onde,
não preparados ou tomados de surpresa, não podemos nem ajudar os operários no
combate que eles realiza, nem aproveitar a excitação dos espíritos para nossa
propaganda.
Eclodem motins, quase
insurreições, e nenhum de nós o sabe.
Há também a perseguição;
aprisionam-nos, deportam-nos às centenas e aos milhares e encontramo-nos
impotentes, não somente para reagir, mas até mesmo para atrair publicamente a
atenção para as infâmias das quais somos vítimas.
Ao trabalho, companheiros! A
tarefa é grande. Ao trabalho, todos!
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