sexta-feira, 22 de maio de 2015

Memórias de uma falha.

Texto inspirado no post de Emanuelle Carvalho no blog Chuva Ácida. 

Entre 1997 a 2008 estive envolvido com organização de shows punk-hardcore, especialmente ligado à ética do faça você mesmo. Escrevia zines e mantinha uma pequena distribuidora local de material independentes com discos, cds, zines e livros políticos. Neste cenário tentava inserir o debate dos direitos humanos. Eu não estava sozinho, amigos e amigas pegavam juntos.


Entre algumas pessoas existia a ideia de criar uma cena com uma identidade comunitária, troca de informação, acolhimento, ativismo anti-capitalismo e música. A ideia não se concretizou.  Os shows eram temáticos, como dia mundial contra o Mc`Donalds, contra o racismo, machismo, homofobia ou contra a guerra do Iraque. Também aconteciam como um espaço de lazer e diversão. Afinal, uma parcela da juventude de classe média e trabalhadora não se encaixava pra colar na Mansão Getúlio, no Coração Melão ou na Metrô.


Na ocasião éramos atacados pelo Estado, que volta e meia fechava os locais shows por conta da falta de documentação ou por reclamações do volume do som. Os ataques também aconteciam de setores do “rock underground” que insistiam em dizer “o meu movimento é a música. foda-se a política” ou “ estes caras são bando de viados”. Estes críticos não percebiam que entre nós os preconceitos estavam presentes, assim como a prepotência e arrogância. O que nos diferenciava era que no rolê existia um ambiente arejado para debater, acusar e até mesmo julgar.



A galera cresceu, uns deixaram claro que o rolê era uma fase da juventude. Outros continuaram a ouvir a música e seguir a sua vida de adulto, também tem os que ficaram presos à imagem. Outros são uns bandos de nostálgicos de algo que não se concretizou. Não posso de esquecer os que adotaram o cinismo ou a adoração ao capital.




Volto dizer: não era um ambiente completamente arejado. No máximo era uma janela para mundo que impõe cercas. Em 2015, o que se tem é um enorme vazio para uma parcela da juventude e dos adultos que não se encaixam e não aceitam os preconceitos no “rock underground” . A falha foi não ter acumulado politicamente com intuito de realizar uma continuidade.